31 agosto 2012

NEOLIBERALISMO, UM DOGMA INABALÁVEL? - Michel Husson

Na França, centenas de economistas reuniram-se para dizer até que ponto estavam “perplexos” em razão das políticas levadas a cabo na Europa. Diante da crise, as medidas de apoio à atividade depressa foram substituídas por uma austeridade generalizada. Ora, esta desencadeia uma espiral recessiva que não pode resolver a questão da dívida, e muito menos do desemprego. Esta vontade cega de voltar ao business as usual vem acompanhada de uma aplicação brutal das receitas neoliberais, que se parece muito a uma terapia de choque.

Podemos falar aqui de dogma, no sentido de que o corpus neoliberal é um conjunto “de ideias mortas que passeiam ainda entre nós”, como explica John Quiggin num livro notável [1]. Ele cita cinco, entre as quais a hipótese da “eficiência dos mercados” (os preços determinados pelos mercados financeiros representam a melhor estimativa possível de um investimento) ou a “teoria do escoamento” (trickle down economics) segundo a qual o bem-estar dos “1%” acaba por beneficiar o conjunto da população.

A crise, e o aumento das desigualdades que a precedeu, deveriam ter reduzido a pó estas ideias: mas elas sobrevivem, como testemunham a ausência de medidas significativas de regulação financeira ou de redução das desigualdades. Isto acontece porque o dogma neoliberal é constantemente renovado segundo um processo de produção permanente, no seio de verdadeiras fábricas: instituições internacionais, universidades, think tanks. Estes “aparelhos ideológicos” são ricamente dotados de meios e tendem a marginalizar todo o programa de investigação heterodoxa. A sua legitimidade assenta na ideia de que a economia é uma ciência de leis incontornáveis, tão intangíveis quanto as leis da física. Este cientifismo é o fundamento sobre o qual pode construir-se o crescimento econômico. 

Eis porque certos economistas podem sinceramente pensar que são depositários da razão econômica. Mas nem todos. Um grupo de economistas tomou recentemente posição “sem opção ideológica” a favor de Nicolas Sarkozy, precisando que “nem de direita nem de esquerda, a ciência econômica ajuda a deliberar as escolhas [sic]”.

Angela Merkel enunciou de maneira muito clara as “reformas estruturais” que deveriam acompanhar o “pacto do crescimento” proposto por Mário Draghi, presidente do BCE: “os custos salariais não devem ser muito elevados, as barreiras no mercado de trabalho devem ser baixas, para que cada qual possa conseguir um emprego”. Aqui temos dois artigos essenciais do dogma: o desemprego resulta de um “custo do trabalho” muito elevado e da rigidez do mercado de trabalho. Temos o direito de falar aqui de um dogma, porque esta causalidade nunca foi estabelecida. No entanto, muito se investiu para consegui-lo e a OCDE construiu mesmo toda uma bateria de indicadores com este fim.

Mas o resultado foi um fracasso: apesar dos estudos truncados, dos “consensos” duvidosos e das regras de três abusivas, nenhum resultado sólido pôde ser identificado. O último relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) consagra um capítulo ao balanço desta literatura e conclui assim: “Os dados empíricos confirmam a conclusão de estudos anteriores: não existe ligação clara entre a legislação protetora do emprego e o nível de emprego”.


Promover políticas cujos efeitos contraproducentes são comprovados (recessão e precariedade) demonstra uma obstinação dogmática de que Jacques Freyssinet deu a chave: “Quando a situação melhora, isso prova a eficácia das reformas realizadas; quando a situação se degrada, isso prova a necessidade de acelerar o seu ritmo”. 

Mas o dogma não é simplesmente irracional. Ele funda uma irracionalidade restrita, fornecendo elementos de legitimidade a políticas que procuram preservar os privilégios de uma camada social estreita. Neste sentido, o dogma é um dos instrumentos que permitem reforçar o poder do capital. Mas esta arma ideológica não é suficiente para contornar o grande dilema que a crise fez aparecer: o capitalismo neoliberal já não pode funcionar nas mesmas bases, mas não aceita espontaneamente outras regras de funcionamento. Só um grau suplementar de afundamento na crise e/ou uma pressão social suficiente poderia afastá-lo do dogma neoliberal.

Retirado de Salut et Fraternité, PDF no site hussonet.

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

NOTA
[1] John Quiggin, “Zombie Economics. How Dead Ideas Still Walk among Us”, Princeton University Press, 2010.

Extraído do sítio Carta Maior

DERROTA DE SERRA EM SP PODE SER O GOLPE FATAL NA MÍDIA DE ESGOTO - Marco Aurélio Mello

A mídia corporativa ainda vai durar. Porque ela se adapta e tem gordura, principalmente vinda do exterior, quando necessita de socorro. Mas o esgoto vive do financiamento paulista, dos tucanos paulistas, que compram assinaturas de jornais, revistas, "suplementos educativos" etc.

Agora, com a derrocada de Serra (a dúvida que resta é apenas quanto ao tamanho do vexame), o Chacrinha do esgoto ("vocês querem petralha? olha o mensaleiro ai-ê!") e seus acólitos não terão mais quem lhes banque os processos na Justiça e acabarão em silêncio, como Policarpo, ou fugindo do país, como Diogo Mainardi.

Quando Serra tentou sua última cartada na eleição de 2010, lançando mão de todo tipo de baixaria, e perdeu, sua derrocada estava desenhada, como no vídeo que editei na época, em cima de imagens do Nosferatu de Herzog, que reproduzo a seguir.


Trocando Dilma por Haddad, o vídeo encerra seu ciclo.

Depois de Serra, os acólitos e parasitas que ainda vivem às suas custas e daquilo que representa.

Extraído do Blog do Mello

POPULAÇÃO BRASILEIRA CHEGA A 194 MILHÕES, ESTIMA IBGE - Gilberto Costa


Brasília – Em 1º julho deste ano, a população brasileira alcançou 193.946.886 de pessoas, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicada hoje (31) pelo Diário Oficial da União.

Segundo a projeção, a população cresceu 1,57 milhão (0,81%), em relação a julho de 2011. Pela projeção, o estado de São Paulo é o mais populoso, com 41,9 milhões de pessoas (21,6% do total de habitantes do país).

Depois de São Paulo, Minas Gerais é a unidade da Federação mais populosa (19,8 milhões), seguida do Rio de Janeiro (16,2 milhões), da Bahia (14,1 milhões), do Rio Grande do Sul (10,7 milhões), Paraná (10,5 milhões), de Pernambuco (8,9 milhões) e do Pará (7,7 milhões).

O município de São Paulo continua sendo a cidade mais populosa do Brasil com aproximadamente 11,4 milhões de pessoas (27% dos residentes no estado e 5,86% do total da população brasileira).

A divulgação das estimativas populacionais está prevista em lei, e os dados estatísticos são usados para o cálculo de indicadores econômicos e sociodemográficos do governo federal, além de servir de parâmetro para a repartição de recursos das políticas públicas e para a distribuição do Fundo de Participação de Estados e Municípios.

Conforme resolução do IBGE, a forma de fazer a projeção do tamanho da população no próximo ano será modificada. “Deverá incorporar novas informações relacionadas à dinâmica demográfica local e incluir procedimentos metodológicos alternativos, como aqueles que fazem uso de variáveis econômicas, sociais e demográficas em nível municipal”, diz o texto.

Em 2013, o chamado Sistema de Projeções da População do Brasil, será atualizado com as informações do Censo Demográfico 2010, das pesquisas por amostragem mais recentes (Pnad), bem como dos registros administrativos (de cadastros públicos) referentes ao ano de 2010.

Extraído do sítio Agência Brasil

IBOPE APONTA EMPATE ENTRE HADDAD E SERRA - Altamiro Borges

O jornal Estadão publicou agora, à meia-noite, a nova pesquisa do Ibope. Ela aponta o empate técnico entre o tucano José Serra, com 20% das intenções de voto, e o petista Fernando Haddad, com 16%. A pesquisa deve cair como uma bomba no comando do eterno candidato do PSDB. Ela confirma a acelerada queda do tucano, que corre o sério risco de nem ir ao segundo turno. As bicadas entre os tucanos tendem a ficar mais sangrentas e muita gente já deve estar sonhando em rifar o intragável postulante à prefeitura da capital.

Segundo o jornalista Daniel Bramatti, do Estadão, "o candidato José Serra (PSDB) caiu de 26% para 20% em duas semanas e está empatado tecnicamente com o petista Fernando Haddad na segunda colocação da corrida pela prefeitura de São Paulo, de acordo com a última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. O líder, Celso Russomanno (PRB), subiu cinco pontos nesse período e chegou a 31%".

"Impulsionado pelo início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, Haddad cresceu de 9% para 16% desde a pesquisa anterior, feita entre 13 e 15 de agosto. Como a margem de erro é de 3 pontos para mais ou para menos, Serra pode ter de 17% a 23% e Haddad, de 13% a 19% - daí o empate técnico... Já Serra perdeu a posição de líder e agora vê ameaçadas as suas chances de chegar ao segundo turno. Se a eleição fosse hoje, o tucano teria votação equivalente à que Geraldo Alckmin (PSDB) alcançou em 2008, quando disputou a eleição para prefeitura e terminou em terceiro lugar, atrás de Gilberto Kassab (então no DEM) e Marta Suplicy (PT)".

A pesquisa do Ibope também confirmou que a liderança de José Serra no quesito rejeição - 34% dos entrevistados afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum. E apontou ainda a péssima popularidade do prefeito Gilberto Kassab, cria e apoiador do tucano. A gestão do prefeito foi considerada ruim ou péssima por 48% e boa ou ótima por 17%. José Serra, um conhecido notívago, não deverá dormir nesta noite!


Extraído do Blog do Miro

ANDRESSA: POLICARPO É "EMPREGADO" DE CACHOEIRA


Afirmação foi feita pela mulher do contraventor Carlinhos Cachoeira ao juiz federal Alderico Rocha Santos. Deu-se durante tentativa de chantagem sobre ele, para que tirasse o marido na penitenciária da Papuda. Santos registrou ameaça à Justiça Federal, em julho, como mostra documento obtido com exclusividade por 247.

247 – É muito mais surpreendente, perigosa e antiética a relação que une o contraventor Carlinhos Cachoeira e o jornalista Policarpo Júnior, editor-chefe e diretor da sucursal de Brasília da revista Veja, a julgar pela ameaça feita pela mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, ao juiz federal Alderico Rocha Santos.

Documento obtido com exclusividade por 247 contém o ofício à Justiça Federal de Goiás, datado de 26 de julho, assinado pelo juiz Rocha Santos, no qual ele relata como foi e quais foram os termos da ameaça recebida de Andressa. A iniciativa é tratada como "tentativa de intimidação". Ele lembrou, oficialmente, que só recebeu Andressa em seu gabinete, na 5ª Vara Federal, em Goiânia, após muita insitência da parte dela.


Com receio do que poderia ser a conversa, Rocha Santos pediu a presença, durante a audiência, da funcionária Kleine. "Após meia hora em que a referida senhora insistia para que este juiz revogasse a prisão preventiva do seu marido Carlos Augusto de Almeida Ramos, a mesma começou a fazer gestos para que fosse retirada do recinto da referida servidora".

Em sua narrativa à Justiça, Rocha Santos afirma que perguntou a Andressa porque ela queria ficar a sós com ele, obtendo como resposta, após nova insistência, que teria assuntos íntimos a relatar, concernentes às visitas feitas a Cachoeira, por ela, na penitenciária da Papuda. Neste momento, o juiz aceitou pedir a Kleine para sair.

"Ato incontinenti à saída da servidora, a sra. Andressa falou que seu marido Carlos Augusto tem como empregado o jornalista Policarpo Jr., vinculado à revista Veja, e que este teria montado um dossiê contra a minha pessoa".

A importância do depoimento oficial obtido com exclusividade por 247 é fácil de perceber. Nunca antes alguém tão próximo a Cachoeira, como é o caso de sua mulher Andressa, havia usado a expressão "empregado" para definir o padrão de relação entre eles. Após essa definição, Andressa disse que Policarpo tinha pronto um dossiê capaz de, no mínimo, constranger o juiz Rocha Santos, a partir de denúncias contra amigos dele. O magistrado respondeu que nada temia, e não iria conceder, em razão da pressão, a liberdade solicitada a Cachoeira. O caso rendeu a prisão de Andressa, que precisou pagar R$ 100 mil de fiança para não enfrentar a cadeia por longo tempo. A fiança foi paga em dinheiro. O juiz, ao denunciar a "tentativa de constrangimento", fez a sua parte. Cachoeira continua atrás das grades, na Papuda. Policarpo Jr. permanece com a sua reputação em jogo. Um dos grampos da Polícia Federal revelou que ele pediu a Cachoeira para realizar um grampo ilegal sobre o deputado federal Jovair Arantes – e conseguiu o que queria.

Confira documento na íntegra:





Extraído do sítio Brasil 247

30 agosto 2012

MÍDIA TENTA SATANIZAR O PT - Altamiro Borges


A mídia está excitada com os primeiros resultados do julgamento no STF do chamado “mensalão do PT”. A condenação do deputado João Paulo Cunha atiçou os piores instintos da imprensa partidarizada. Manchete do jornal O Globo: “Petista que presidiu a Câmara é condenado por corrupção”. Manchete da Folha: “STF condena petista por corrupção”. O partido que venceu as três últimas eleições presidenciais – apesar da violenta oposição midiática – agora é satanizado pelos jornalões, revistonas e emissoras de televisão.

Na semana passada, com o voto contrário à condenação do ministro-revisor Ricardo Lewandowski, a imprensa caiu no pessimismo e passou a desqualificar vários integrantes do Supremo. Afirmou que a maioria tinha sido indicada por Lula, que os ministros não tinham autonomia e transformariam o julgamento numa enorme pizza. Agora, com a votação do primeiro bloco, ela faz apologia do STF. De vilões, os ministros viraram heróis. Já se fala até na candidatura presidencial de Joaquim Barbosa, o novo ícone da mídia.

Os objetivos da imprensa golpista

Não há qualquer esforço para uma análise técnico-jurídica do processo. A execração da mídia é puramente política, confirmando sua postura de principal partido da direita nativa. Dane-se a falta de provas concretas, o que vale são os “indícios” de corrupção – um verdadeiro atentado aos manuais de direito. Para a mídia, o STF não condenou o deputado João Paulo Cunha, mas sim o PT – e, lógico, o ex-presidente Lula. Já há “calunistas” mais afoitos dizendo que Lula, “o chefe dos mensaleiros”, também deve ser julgado pelo STF.

A mesma mídia que esconde o “mensalão mineiro” – ela nem sequer fala em “mensalão tucano” – ou as denúncias sobre a privataria no reinado de FHC, agora concentra toda a sua artilharia contra o PT. O seu objetivo estratégico é desgastar as forças de esquerda do país – e não apenas os petistas. Já o seu objetivo tático, imediato, é tentar salvar a oposição demotucana de um vexame nas eleições municipais de outubro. Daí a sua violenta pressão para que o julgamento no STF ocorresse nas vésperas do pleito.

A falsa ética dos corruptos

Toda a corrupção deve ser apurada rigorosamente e punida de forma exemplar. Mas a mídia não está preocupada, de fato, com isto. Ela já ajudou a eleger famosos corruptos – é só lembrar os demos José Roberto Arruda e Demóstenes Torres – e conta com bilionários anúncios publicitários de várias empresas corruptoras. Parte dela inclusive está envolvida com o crime organizado, como comprovam os grampos da Operação Monte Carlo da Polícia Federal. Seu discurso ético é pura hipocrisia que só engana os ingênuos!

Em tempo: o artigo de Eliane Cantanhêde, aquela da “massa cheirosa” tucana, na Folha de hoje é patético. Ela afirma com todas as letras que o PT, “o partido que mobilizou a nação com o discurso da ética, chega ao banco dos réus e às portas da prisão”. Diante do resultado da primeira parte do julgamento, ela afirma na maior caradura que “estamos todos constrangidos. E tristes”. Cinismo puro! Ela deve ter saído para festejar a condenação junto com os seus amigos e familiares tucanos!

Sobre o artigo de Cantanhêde, vale a pena ler o desabafo do Eduardo Guimarães no Blog da Cidadania.

Extraído do Blog do Miro

ELEIÇÕES NA VENEZUELA: A BATALHA DE CARABOBO - Leonardo Fernandes


A Venezuela se prepara para em pouco menos de dois meses, realizar as eleições à presidência da República, definidas pelo presidente Hugo Chávez, e candidato à reeleição, como a “batalha decisiva para a consolidação da independência nacional e a construção irreversível do socialismo”.

As pesquisas de opinião quase em sua totalidade dão vitória certa ao chamado “Candidato da Pátria”, líder da Revolução Bolivariana. Os números variam, mas deixam claro que entre 50 e 60% dos eleitores venezuelanos devem votar pelo projeto apresentado por Hugo Chávez, que por certo foi publicado em diversas versões, e distribuídos gratuitamente em todo o país para, como determinou o próprio Comandante, ser discutido por cada venezuelano e venezuelana. Ainda assim, é notado um constante chamado a evitar o triunfalismo, e a trabalhar forte para derrotar o projeto da direita de maneira contundente no dia 7 de outubro.

A oposição parece ter se arrependido da escolha do candidato para representar os partidos da chamada “Mesa da Unidade Democrática – MUD”. O cidadão, com um passado controverso, não consegue emplacar e deixa a desejar se comparado ao último rival de Chávez, Manuel Rosales, conhecido pela torpeza dos discursos e por inúmeros casos de corrupção, que faz dele atualmente foragido da justiça venezuelana.

Henrique Capriles Radonski é um jovem de 40 anos, que precisamente presidia o extinto Congresso da República, anteriormente à Reforma Constituinte promovida por Chávez e o Movimento Quinta República - MVR - em 1999. Representava naquele então o partido Copei, sigla que dividiu o poder durante 40 anos com o Ação Democrática – AD, durante a política do chamado Pacto de Punto Fijo, um acordo de alternância de poder que permitiu à oligarquia neoliberal governar o país com uma das maiores reservas de petróleo do mundo, de acordo com os interesses de uma minoria.

Em 2002, durante o golpe de estado contra o governo democrático do presidente Hugo Chávez, Capriles liderou um grupo de opositores que invadiu a embaixada de Cuba em Caracas e prendeu violentamente e sem ordem judicial a ministros e outras personalidades ligada à Revolução. Ex-militante da seita de extrema direita “Tradição, família e propriedade”, o autodenominado “candidato do progresso” não consegue se desvincular do imaginário venezuelano, que tem presente a memória daqueles dias de abril onde a velha oligarquia política e econômica do país sequestrou a democracia por pouco mais de 48 horas.

Na falta de um candidato forte que conseguisse desestabilizar o “intumbable” Chávez, a oposição assume o ataque por diversas frentes.

As Instituições da Democracia

O sistema eleitoral venezuelano é reconhecido por Observatórios Eleitorais e organizações internacionais como um dos mais seguros do mundo. Um sistema que veio sendo aprimorado nos últimos anos, e hoje conta com uma série de ferramentas para garantir a segurança e inviolabilidade do voto.

Começando pelo processo de identificação do eleitor através de um sistema de impressões digitais, que permite acabar com o delito de falsidade ideológica que poderia alterar os resultados finais das eleições. Apesar de a votação ser totalmente automatizada, as urnas imprimem o voto, que é depositado em uma urna de contagem manual, e posteriormente comparado às informações digitais. Além disso, cada eleitor tem o dedo pintado com uma tinta indelével para impedir o chamado “voto duplo”.

Ainda assim, quase todas as menções da oposição ao CNE obedecem à tônica da desconfiança e da insinuação de favorecimento do ente eleitoral ao candidato Chávez. Do outro lado, o chavismo denuncia que a desqualificação opositora ao Conselho Nacional Eleitoral faz parte de uma campanha prévia ao não reconhecimento dos resultados do dia 07 de outubro. Isso, apesar de o comando de campanha de Capriles ter assinado no dia 17 de julho um acordo proposto pelo CNE, com as demais forças políticas do país, incluindo a coligação que apoia Chávez, para desenvolvimento pacífico e democrático do processo eleitoral. O documento consiste no comprometimento de cada força política a submeter-se às leis e à Constituição, a competir em um clima pacífico e democrático, e a respeitar dos resultados divulgados pelo ente competente para a realização do processo. Ficam muitas dúvidas sobre o real cumprimento desta última premissa.

A “Comunicação Democrática”

A comunicação é um dos temas mais sensíveis da campanha eleitoral da Venezuela, principalmente porque é importante entendê-la como parte de um processo político radicalizado, onde ela, opositora ou não, cumpre um papel fundamental para a continuidade ou manutenção do status quo. Entendê-lo desta forma é abdicar-se de preconceitos ou conceitos mal formados sobre liberdade ou expressão, ou ainda, sem ilusões quanto à imparcialidade da atividade comunicacional.

Por um lado a oposição acusa o governo de utilizar os canais vinculados ao Sistema de Meios Públicos para fazer campanha eleitoral a favor do “Candidato da Pátria”. Uma afirmação que poderia ser correta, se não estivesse desvinculada propositalmente do contexto, para transformá-la em uma mera propaganda.

A Venezuela apresenta hoje um espectro de meios de comunicação majoritariamente privados e opositores ao governo. A radicalização do processo político no país não permite, por exemplo, que os meios privados veiculem qualquer peça publicitária do candidato da esquerda. Todos, absolutamente todos, se opõem a ter em sua programação qualquer mensagem positiva associada à figura de Chávez. O jeito foi fazer igual do outro lado também em alguns poucos meios públicos, não pela subordinação ao estado, senão pelo comprometimento real dos trabalhadores dessas empresas com o processo político revolucionário.

Ainda assim, o CNE fiscaliza os tempos de aparição dos candidatos para a divulgação de campanhas por rádio e televisão. E a propaganda opositora fica sem terreno sólido.

Um estudo publicado pelo próprio Conselho Nacional Eleitoral no dia 10 de julho mostrava que, apesar das constantes aparições do presidente Chávez nos meios públicos, ele somava somente 13% de toda a programação televisiva do país, enquanto o candidato da direita chegava aos 50%. Em um dos canais privados mais vistos pelos venezuelanos, a Venevision, Capriles tinha um acumulado de 4.500 segundos, enquanto a Chávez, o tempo dedicado não passou de 540 segundos da programação analisada. Isso, somados os meios impressos (por sinal o jornal de maior circulação no país, “Últimas Noticias”, é propriedade da Cadeia Capriles, como o próprio nome indica, pertencente à família do atual presidenciável da direita), ou os níveis de audiência de cada veículo, se evidencia uma realidade bem diferente do que indica a campanha opositora.

Não fossem os poucos meios públicos (16 entre impressos, rádio e televisão) construídos ao longo dos 14 anos de governo revolucionário, o povo e seu processo histórico, que inclui necessariamente a Revolução Bolivariana, seriam reféns de um sistema de comunicações que nunca deixou de ser uma dura frente de batalha do lado opositor. Vide a participação direta de empresas do ramo na conspiração que levou ao golpe de estado contra a ainda incipiente Revolução Bolivariana em 2002.

À Batalha

Ao anúncio da doença, enfrentada pelo presidente Hugo Chávez no ano passado, muito setores da própria esquerda, além de lamentar a debilidade física do líder político, começaram a imaginar estratégias para a continuidade do processo revolucionário e, frente às eleições que se aproximavam, para levar adiante um processo eleitoral sem o maior propagandista da Revolução. Os mais otimistas, apostavam por um Chávez debilitado, mas com capacidade para vencer no voto de qualquer candidato da direita sem fazer campanha. A campanha era o governo.

Algumas das mais conhecidas medidas do governo revolucionário da Venezuela, antes criticadas por toda a oposição, tiveram que ser adequadas ao projeto da direita. Isso porque funcionaram, e colocaram a Venezuela nos índices mais positivos de distribuição de renda, associada ao desenvolvimento econômico do país.

O que a oposição critica agora já foi bem pior, quando a Venezuela era governada por eles. Os números dão uma boa pista. É verdade, por exemplo, que a inflação sempre foi uma grande dor de cabeça para os governos de turno desde há algumas décadas. Mas a inflação que hoje é usada pela oposição como exemplo da suposta ineficiência da política econômica venezuelana e que em 2010 ficou na casa dos 26%, em 1996, durante os governos do “puntofijismo”, superou os 100%. O governo revolucionário conseguiu quase duplicar o Produto Interno Bruto do país, assumindo o papel de gestor de uma profunda reforma no sistema de preços no mercado internacional do petróleo, base da economia venezuelana. Os novos e volumosos ingressos petroleiros a partir da segunda metade dos anos 2000, associados a uma política de redistribuição de renda através de dezenas de “missões”, conseguiu fazer do pequeno e rico país sul-americano, o “menos desigual” da América Latina, segundo dados da Organização das Nações Unidas divulgado no último dia 21 de agosto.

Não era preciso uma campanha forte. A campanha estava nas ruas, nas milhares de casas construídas e subsidiadas pelo governo para atender às famílias mais pobres, nos milhares de médicos espalhados pelo país, oferecendo atendimento gratuito aos moradores das comunidades historicamente marginalizadas, nos abundantes novos pensionados, incluídos no sistema de seguridade social, algo impensável nos governos anteriores, ou em outras dezenas de programas sociais que entre tantas conquistas, erradicou o analfabetismo, universalizou o acesso à educação e à saúde, diminuiu dramaticamente os índices de pobreza e pobreza extrema, e por aí vai.

Depois de mais de um ano de luta contra o câncer, no dia 11 de junho, durante o ato de inscrição da candidatura em Caracas, o “Candidato do Amor”, como também é chamado, demonstrou que estava preparado para a batalha do dia 7 de outubro. Um discurso de mais de três horas e uma energia capaz de emocionar a multidão reunida na Praça Diego Ibarra, em pleno centro histórico da capital, fez desaparecer todos os rumores de que o presidente estaria à beira da morte.

A oposição, que apresentava um candidato jovem, que deveria marcar uma mudança nos paradigmas da política venezuelana, começou a se dar conta que uma ainda inconclusa mudança de paradigmas já havia começado a ocorrer há 14 anos, quando o soldado Hugo Rafael Chávez Frias foi eleito pela maioria dos venezuelanos, com o compromisso de refundar a República e fazer a justiça social exigida a gritos durante os violentos dias do Caracazoii.

A oposição, que havia acreditado no estado terminal do presidente como a última esperança para vê-lo longe de Miraflores, agora tem suficientes motivos para entender que o “Candidato da Pátria”, o “Candidato do Amor”, não só estava preparado para uma campanha, senão para uma verdadeira Batalha, decisiva para consolidação da independência nacional e construção irreversível do socialismo em território latino-americano.

i Batalha de Carabobo é o nome dado à Batalha liderada pelo exército do Libertador Simón Bolívar em 1821, na região de mesmo nome no centro do país. ABatalha de Carabobo é considerada por muitos historiadores como decisiva para a conquista da Independência da República, que havia sido proclamada em 1811, mas que só foi consumada com a tomada de Caracas e outras regiões de importância estratégica e que, até 1821, permaneciam sobre domínio da coroa espanhola.

ii O Caracazo é como ficou conhecida a revolta popular espontânea ocorrida nos dias 27 e 28 de fevereiro de 1989, após o anúncio de um pacote de medidas neoliberais pelo então presidente da República Carlos Andrés Pérez, representante do chamado Pacto de Punto Fijo. Três anos mais tarde, Hugo Chávez protagonizaria uma rebelião militar com o objetivo tomar o poder para responder às demandas do Caracazo. Naquele dia, Chávez pronunciaria um discurso no qual dizia que “por agora” não seria possível cumprir os objetivos propostos. Esse “por agora” foi a porta de entrada deste soldado bolivariano para a história da política venezuelana e latino-americana, e o começo de uma organização política cívico-militar com o objetivo de chegar ao poder pela via eleitoral democrática.

* Leonardo Fernandes é jornalista e trabalha para o canal internacional de notícias latino-americano, teleSUR, com sede em Caracas, Venezuela.

Extraído do sítio Diário Liberdade

JOSÉ SERRA VAI SER "CRISTIANIZADO"? - Altamiro Borges


A pesquisa Datafolha divulgada ontem fez ressurgir o fantasma da “cristianização”. Nas eleições presidenciais de 1950, a candidatura do mineiro Cristiano Machado não decolou e ele foi rifado pelo seu próprio partido, o PSD, que em plena campanha passou a apoiar “extraoficialmente” Getúlio Vargas. Daí a origem do termo. Agora pode ocorrer o mesmo com José Serra. A pesquisa acendeu o sinal de alerta. O tucano pode nem ir ao segundo turno. Nos bastidores, alguns “aliados” já falam que ele será “cristianizado”.

Segundo o Datafolha, Serra perdeu cinco pontos na corrida para a prefeitura da capital paulista – de 27% para 22%. Já o “azarão” Celso Russomanno (PRB) enfrentou bem a primeira semana da propaganda na tevê e manteve os seus 31%. Para complicar ainda mais a vida do tucano, o petista Fernando Haddad subiu seis pontos – de 8% para 14%. No outro extremo, o da taxa de rejeição, Serra é o campeão absoluto, com 43% – há uma semana, 38% dos eleitores diziam que não votariam nele de jeito nenhum.

O risco de "vexame" do tucano 

Diante destes índices preocupantes, muitos caciques da oposição demotucana já temem pelo “vexame” do eterno candidato do PSDB. O que parecia impossível, a sua não ida ao segundo turno, agora parece bem provável. Russomanno pode até cair alguns pontos – inclusive sendo alvo das baixarias de Serra –, mas tudo indica que Haddad vai crescer nas intenções de voto. Até Josias de Souza, o blogueiro da Folha, já prevê a possibilidade do segundo turno com Russomanno e Haddad. Em artigo postado na semana passada, ele advertiu:

“Serra passou a conviver com um desafio novo. Precisa provar-se capaz de sobreviver ao primeiro round da disputa. A sua prioridade agora é evitar o fiasco experimentado por Geraldo Alckmin na disputa municipal de 2008. Naquele ano, Alckmin deslizou da liderança nas pesquisas para a derrota no primeiro turno. Passaram à segunda fase Gilberto Kassab (então no DEM) e Marta Suplicy (PT)”. Com a nova pesquisa, o risco do “fiasco” passou a ser ainda maior, atormentando o comando da campanha de Serra.

Kassab e Alckmin

É neste cenário que surgem as perguntas – e as articulações de bastidores. O pragmático Gilberto Kassab, líder de um partido “que não é de esquerda, nem de direita e nem de centro”, vai apostar todas suas fichas no rejeitado Serra? O seu PSD inclusive já foi rotulado de “cupim” por dirigentes do PSDB e é apontado como culpado pelo declínio do tucano. E o governador Geraldo Alckmin, que já foi traído por Serra e não morre de amores por ele, vai se empenhar na campanha? Há fortes indícios de que a “cristianização” está em curso!

Extraído do Blog do Miro

CORREA DIZ QUE EUA NÃO OFERECEM GARANTIAS DE PROCESSO JUSTO PARA ASSANGE

Ativistas expressam apoio a Julian Assange. Foto: ©AFP / Rodrigo Buendía
QUITO (AFP) – Os Estados Unidos não oferecem garantias de um processo justo para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e por este motivo o Equador insiste que Reino Unido e Suécia assegurem que ele não será extraditado a este país, disse o presidente equatoriano, Rafael Correa.

“Caso seja extraditado aos Estados Unidos, não há nenhuma garantia de um processo justo”, disse o presidente em uma entrevista ao canal canal público Gama, centrada no asilo diplomático que Quito concedeu a Assange em 16 de agosto. “O que queremos é garantir o justo processo e o direito à vida do senhor Assange, mas há indícios claros, graves, de perseguição política”, completou.

O australiano, de 41 anos, está na embaixada do Equador em Londres desde 19 de junho para evitar a extradição para a Suécia, onde é acusado de supostos crimes sexuais, o que ele nega. Quito deseja que Londres conceda um salvo-conduto para que Assange possa deixar o país. Assange teme que a Suécia o extradite aos Estados Unidos, onde poderia ser condenado à morte ou prisão perpétua por espionagem, depois que o site WikiLeaks divulgou milhares de telegramas diplomáticos secretos de Washington.

Extraído do sítio Revista CartaCapital

FOLHA DIZ NA 1ª PÁGINA QUE "PT" ESTÁ "À BEIRA DA PRISÃO" - Eduardo Guimarães


Na verdade, a frase no alto da primeira página da edição da Folha de São Paulo desta quinta-feira (30.08) é atribuída pelo jornal à esposa do publicitário Gilnei Rampazzo, sócio de Luiz Gonzalez, marqueteiro de José Serra e do PSDB há incontáveis eleições. A frase textual que compõe a manchete é a seguinte:

“Eliane Cantanhêde: PT à beira da prisão é motivo de constrangimento”

Fico imaginando o tamanho da prisão que terá que ser construída para abrigar um partido com 1.549.180 filiados caso “o PT” seja preso. Aliás, segundo essa manchete delirante, mal-intencionada, criminosa, a presidente Dilma Rousseff já pode ir preparando sua malinha para esperar o camburão vir recolhê-la, certo?

Quem é tão burro para acreditar em um jornal como a Folha de São Paulo? Aquilo nem um partido político é – nenhum partido seria tão burro de acusar um partido adversário inteiro por um escândalo que envolve seus filiados simplesmente porque todos os partidos têm membros envolvidos em escândalos.

Assim sendo, quando o mensalão do PSDB for a julgamento no STF – se é que as penas não prescreverão antes – e surgirem condenações, será que essa militante tucana travestida de jornalista dirá que “o PSDB” está “à beira da prisão”. E se escrevesse, será que a Folha colocaria essa cretinice na primeira página?

Esse esforço dessa imprensa criminosa para atingir todo um partido político pelo envolvimento de alguns poucos membros seus em um escândalo em que fatos e invenções convivem lado a lado, de acordo com a história recente está fadado ao fracasso.

Quem tem um pingo de memória sabe que o mensalão “petista” foi julgado no tribunal popular em 2006 e o partido foi amplamente absolvido. Neste ano, não se percebem efeitos eleitorais dignos de nota, do que é prova a ascensão do candidato Fernando Haddad em São Paulo mesmo com o dilúvio midiático sobre o mensalão.

A primeira página da Folha de São Paulo de 30 de agosto de 2012 equivale às primeiras páginas desse panfleto partidário tucano que reproduziram ficha policial falsa da hoje presidente Dilma Rousseff, acusação ao ex-presidente Lula de ter assassinado as vítimas do acidente com o avião da TAM e a acusação a ele de ser “estuprador”.

De resto, espera-se que o PT processe a Folha de São Paulo e represente à Procuradoria Geral Eleitoral contra uma jogada política baixa, suja, mesquinha e burra como só uma família que lambeu as botas da ditadura militar e a serviu com vassalagem inaudita, como fez a família Frias, sabe produzir.

Extraído do Blog da Cidadania 

COMO OS ESTADOS UNIDOS PERDERAM O RUMO - Paul Krugman e Robin Wells

Ao investigar impotência de Obama diante de Wall Street e guinada ultraconservadora dos republicanos, Krugman dispara: país entrou em crise com a democracia.


Na primavera de 2012, a campanha de Obama decidiu ir atrás da história de seu oponente, Mitt Romney, na Bain Capital, uma firma de administração de fundos privados [private equity] que se especializou em assumir o controle de empresas e multiplicar o capital de seus investidores – às vezes, promovendo seu crescimento, mas frequentemente às custas dos seus trabalhadores. Na verdade, houve vários casos em que a Bain conseguiu lucrar mesmo quando as empresas adquiridas foram à falência.

Havia razões política claras para tal atitude. O próprio senador Ted Keneddy havia suscitado, com sucesso, a história dos trabalhadores arruinados pela Bain, em sua campanha contra Ronney em Massachussetes, em 1994. Além disso, o único discurso possível para Romney, na atual disputa pela presidência, é sua afirmação de que pode, como um homem de negócios bem- sucedido, consertar a economia. Fazia todo o sentido apontar as muitas sombras que pairam sobre a história de negócios de Romney – e fisar que o que é bom para a Bain, definitivamente não serve aos Estados Unidos.

No entanto, enquanto escrevíamos este artigo, dois políticos destacados do Partido Democrata minaram a estratégia. Primeiro, Cory Booker, o prefeito de Newark, descreveu os ataques ao private equity como “repugnantes”. Depois, ninguém menos do que Bill Clinton apressou-se a descrever a história de Romney como “legítima”, acrescentando: “Não acho que devemos ficar na posição em que dizer: ‘este é um trabalho ruim’, ou ‘este é um bom trabalho’”. (Mais tarde, ele apareceu ao lado de Obama e disse que uma presidência de Romney seria “calamitosa”).

O está acontecendo? A resposta atinge o centro das decepções — políticas e econômicas – com o governo Obama.

Quando o presidente foi eleito, em 2008, muitos progressistas esperavam uma repetição do New Deal. A situação econômica era, afinal, muito semelhante. Como em 1930, um sistema financeiro descontrolado levou primeiro a excesso de endividamento privado; e, em seguida, a uma crise financeira. A contração econômica que se seguiu (e persiste até hoje), embora não tão severa quanto a Grande Depressão, mantém uma semelhança óbvia com a do século passado. Por que as políticas deveriam seguir um script semelhante?

Mas, embora a economia de hoje mantenha forte semelhança com a dos anos 1930, o cenário político não a acompanha — pois nem os democratas, nem os republicanos são o que eram outrora. Ao chegar à presidência com Obama, boa parte do Partido Democrata foi quase capturada pelos interesses financeiros que levaram à crise. Como mostraram os incidentes com Booker e Clinton, parte do partido permanece nesta condição. Enquanto isso, os republicanos tornaram-se extremistas a um ponto que nunca se imaginou, três gerações atrás. A oposição radical que Obama tem enfrentado em questões econômicas contrasta com o fato de que a maioria dos republicanos no Congresso votou a favor, e não contra, a principal conquista de Roosevelt: a lei instituiu a Seguridade Social nos EUA, em 1935.

Essas mudanças nos partidos políticos dos EUA explicam o motivo de não ter havido um segundo New Deal; e por que a resposta política à crise econômica prolongada tem sido tão inadequada. A captura parcial do Partido Democrata por Wall Street e o efeito de distorção que ela produziu na política são os temas centrais do livro de Noam Scheiber, The Escape Artists: How Obama’s Team Fumbled the Recovery [algo como “Os Escapistas: Como a equipe de Obama se atrapalhou na recuperação”], uma visão, a partir de dentro, das ações da equipe econômica de Obama, desde os primeiros dias transição presidencial até o final de 2011.

Scheiber começa tratando da influência que Wall Street exerceu sobre o conjunto da equipe econômica. Em suas primeiras páginas, ele conta como a campanha de Obama apoiava-se nos conselhos políticos de “acadêmicos obscuros, radicais sem muitos vínculos e burocratas ultrapassados” – a exemplo de Austan Goolsbee, um jovem professor de economia da Universidade de Chicago, e Paul Volcker, o octogenário embora ainda vigoroso ex-presidente do Federal Reserve [o equivalente americano do Banco Central – Nota da tradução]. Porém, em setembro de 2008, um outro grupo havia se formado e começou a disputar influência. Era composto por endinheirados de dentro do mercado. A maioria deles tinha trabalhado para o ex-secretário do Tesouro [equivalente ao ministro da Fazenda no Brasil – nota da tradução] de Clinton, Robert Rubin — que foi sócio da Goldman Sachs antes de integrar o governo de Bill Clinton e, após sair, tornou-se diretor, conselheiro e depois presidente do Citigroup. Eram os rubinistas.

Em pouco tempo, este grupo substituiu inteiramente a equipe anterior. Por exemplo, a pessoa encarregada de estudar possíveis contratações era Jason Furmam, economista de Washington que dirigiu o Projeto Hamilton, um think tank de tendência neoliberal fundado por Rubin e mantido por financistas simpatizantes do Partido Democrata. Mike Froman – um auxiliar de Rubin durante seu mandato como secretário do Tesouro (e que o acompanhara no Citigroup) — foi o chefe pessoal da equipe de transição formada por Obama. Foi Froman quem indicou e apoiou, posteriormente, Larry Summers e Tim Geithner como principais candidatos para o departamento do Tesouro.

Summers, economista de Harvard e ex-subsecretário do Tesouro de Robert Rubin, (mais tarde, seu substituto como secretário do Tesouro e também consultor de um fundo de hedge de Wall Street), seria o principal assessor econômico de Obama, na condição de diretor do Conselho Econômico Nacional. Geithner – que havia sido o braço direito de Summers na secretaria do Tesouro de Clinton e, mais tarde, presidente do Federal Reserve de Nova York – fora uma das três pessoas que agiram, no outono de 2008, para salvar os maiores bancos do país, em termos muito favoráveis a estes. Como Scheiber escreve: “Ao escalar Mike Froman como encarregado da contratação, Obama escolheu para seu governo um staff composto por infiltrados (do mercado financeiro) e gente do establishment”

O domínio dos rubinistas no novo governo chocou muitos progressistas. Para muitos a revogação da Lei Glass-Steagall, promovida por Bill Clinton e defendida por Robert Rubin (mas contestada por Paul Volcker, presidente do FED), simbolizava as relações muito amigáveis entre o governo Clinton e Wall Street, e ajudara a disparar a crise financeira de 2008. A lei Glass-Steagall, datada da época da Grande Depressão, proibia as instituições financeiras de manter contas bancárias garantidas pelo Estado e, ao mesmo tempo, atuar nos mercados de derivativos. Ela não teria impedido a implosão de 2008 em Wall Street. O incêndio teve como combustíveis os níveis extraordinariamente elevados de alavancagem de bancos de investimento como o Lehman e Merrill Lynch e a construção de imensos portfólios de hipotecas de segunda linha, por instituições como o Bank of America. Mas os progressistas estavam certos, ao lembrar que Wall Street fora perigosamente desregulada por muito tempo, e que todo o país agora estava pagando por isso.

No entanto, o novo governo se fez de surdo a estas preocupações. Como relata Scheiber, quando um senador democrata protestou que a equipe liderada por Geithner e Summers tinha sido muito simpática com Wall Street durante a década de 1990, Obama rejeitou as preocupações, afirmando que “precisava de pessoas com quem pudesse contar em uma crise. Além disso… eles tinham mudado”.

Foi algo como uma conspiração? Não – como Scheiber explica, tudo foi menos intencional e mais complicados do que parece. Por um lado, Obama tinha necessidade de ter mãos experientes credibilidade imediata, em meio à pior crise financeira desde a Grande Depressão. Por outro, pesou a inapetência do presidente por decisões politicas fortes. Mas também é claro que a personalidade de Obama e seu temperamento foram fundamentais para alinhar a sorte do presidente com a dos pupilos de Rubin. Como Scheiber observa com correção, Obama e Tim Geithner têm, em comum, infâncias similares como expatriados e um discreto estilo auto-depreciativo, que os leva a evitar o conflito direto. Sem dúvida, a equipe econômica dos sonhos de Obama deu-lhe a “afirmação intelectual” pela qual, observa Scheiber, “ele suplicava.”

Mas essa equipe, que pode ter dado a Obama afirmação intelectual, não lhe ofereceu deu conselhos muito bons. No fim das contas, a resposta de Obama à crise financeira foi desequilibrada e inadequada. Wall Street recebeu um resgate generoso, com poucas exigências de contrapartidas; os trabalhadores e proprietários de imóveis hipotecados foram abandonados, por planos impotentes de estímulo e redução das dívidas.

É verdade, nem todos os membros da equipe agiram errado. Sabemos hoje que especialmente Christina Romer, uma professora de Berkeley nomeada para chefiar o Conselho de Assessores Econômicos de Obama, reivindicou, desde o início, um estímulo econômico muito maior que proposto pelo governo. Mas Romer foi escanteada. Quem falava ao ouvido de Obama era Larry Summers — uma pessoa que não tem vergonha em mostrar seu brilhantismo. A princípio, isso poderia não fazer muita diferença. Enquanto acadêmico, Summers defende perspectivas econômicas keynesianas não muito diferentes das de Romer (ou das nossas). Mas, em vez de transmitir uma análise econômica sóbria, ele tentou mostrar sua astúcia política antevendo o que o Congresso estaria disposto a aceitar. Como resultado, deixou de defender a causa de um estímulo econômico maior.

Mas é Tim Geithner, o secretário do Tesouro de Obama, que aparece – ainda mais que o presidente – como o elemento decisivo desta saga. Em contraste com Summers – retratado por Scheiber como um rubinista flexível, disposto a alterar seus pontos de vista diante de provas e convencido, em especial, de que os acionistas de bancos socorridos podiam e devia pagar mais para os contribuintes – Geithner é descrito como um rubinista doutrinário, que enxerga, como sua principal tarefa, restaurar a confiança do mercado financeiro. Em sua cabeça, isso significa não fazer nada que possa perturbar Wall Street.

Um pacote de socorro financeiro era, sem dúvida, necessário. Mas Geithner atropelou Summers – e até mesmo Obama – desenhando um resgate no qual: (I) os contribuintes assumiram todo o risco, sem ganhar nada em troca; (II) as investidas especulativas do Goldman Sachs contra a AIG [American International Group, que chegou a ser a maior seguradora do mundo, faliu e foi resgatada pelo FED em 2008] foram honradas na íntegra e validadas graças ao resgate da empresa pelo governo; e (III) o plano de regulação dos mercados de derivativos foi, como disse um lobista, “o que o próprio mercado gostaria de ter formulado”. Não houve, é claro, debate algum sobre responsabilidade ou dolo, sequer uma insinuação de que os banqueiros tinham feito algo errado, ao colocando a economia em tal situação. Isso, afina, poderia “minar a confiança”…

Como Geithner conseguiu dominar tão completamente as políticas econômicas? Em parte, graças sua habilidade como articulador. Mesmo quando não podia ganhar uma disputa pelo argumento, ele o fazia por outros meios. Muitas vezes, ele simplesmente esperava as pessoas desistirem – foi sua tática com Rahm Emanuel, sabendo que a atenção maníaca deste acabaria desviando-o para outro assunto. E, crucialmente, Geithner foi autorizado pela falta de vontade de Obama em resolver impasses entre seus assessores. Quando a opinião pública manifestou seu ódio diante do socorro aos bancos, David Axelrod, Robert Gibbs, e Rahm Emanuel voltaram-se para Geithner e insistiram com ele para que acionistas de bancos pagassem algum preço, pelo resgate oferecido pelo governo ao setor bancário. Geithner simplesmente recusou-se a ceder, argumentando de modo capcioso que os bancos já haviam pago um preço, por serem forçados a levantar capital no mercado. Como Scheiber aponta com precisão, esta fala ignorava o fato de que, ao respaldar os bancos durante sua implosão autoinfligida, o governo norte-americano fornecera-lhes uma apólice de seguro de bilhões de dólares. No final, Geithner ganhou.

Se Geithner foi o designer ativo do plano de resgate de Wall Street, Obama foi o facilitador passivo da intransigência do Partido Republicano. Scheiber descreve como, por inúmeras vezes, a busca de soluções bipartidárias, por parte do presidente, deixou o partido mais conservador em vantagem. Scheiber observa que “na mente de Obama, ‘partidário’ está igualado a ‘paroquial’, ou mesmo a ‘corrupto’”, o que o levou a “fazer enormes concessões, antes mesmo que a negociação [sobre o estímulo à economia] tivesse começado”. Também ressalta que o apetite do presidente para ser aceito pelos dois partidos sempre foi “profundamente confuso” e que, ao contrário da abordagem de Obama, “as pressões dos partidos podem muito bem servir ao interesse público, quando não há outro caminho para passar a legislação”.

O centrismo inato de Obama levou-o a adotar a preocupação com o déficit orçamentário de Geithner e de Peter Orszag (o chefe do Escritório de Orçamento e Gestão, outro protegido de Rubin), desprezando os protestos verbais de Summers e Romer, para quem não era o momento de se preocupar com déficits. Como resultado, Obama nunca compreendeu que o estímulo econômico original foi suficiente. Esta posição deixou-o emparedado quando se tornou claro – já no verão de 2010, ou mesmo antes — que as medidas eram, na verdade, quase insignificantes.

O ponto mais baixo, no balanço de Scheiber, foi participação inepta de Obama nas negociações de 2010 sobre o destino dos cortes de tributos para os ricos, que haviam sido decretados no governo Bush. A própria equipe econômica, profundamente preocupada porque “o presidente estava ausente” do embate, passou a agir por conta própria. Foram Geithner e o antigo braço direito político de Clinton, Gene Sperling, que arrancaram concessões dos republicanos no acordo final, enquanto Obama ainda procurava um consenso. Outra vítima desse período foi a busca real de qualquer alívio da dívida para os proprietários de imóveis hipotecados. Por volta do final de 2010, tanto Summers quanto Romer deixaram Washington frustrados.

O livro de Scheiber é, portanto, uma história deprimente a respeito de quanto a influência de Wall Street sobre os democratas livrou o sistema financeiro de pagar pelo caos que provocou e evitar, de quebra uma regulamentação eficaz de sua atividade. Também conta como Obama foi incapaz de confrontar os republicanos mais intransigentes. Mas o que tornou este partido tão extremista? Este é, de diferentes maneiras, o tema de dois outros livros recentes: Pity the Billionaire [algo como “Coitados dos bilionários”] de Thomas Frank e The Age of Austerity [“A Era da Austeridade”] de Thomas Edsall.

Frank concentra-se no que chama de “algo único na história de movimentos sociais dos Estados Unidos: uma conversão em massa para a teoria do livre mercado como resposta aos tempos difíceis”. Trata-se de algo realmente notável. Afinal, por três décadas, antes da crise financeira norte-americana, as políticas públicas e a política institucional foram crescentemente dominadas pela ideologia do laissez-faire – a crença de que os mercados (e os mercados financeiros, em particular) devem ser autorizados a correr soltos. Depois, veio a queda inevitável. Mas, longe de exigir um retorno a uma maior regulamentação, grande parte do eleitorado norte-americano voltou-se para a visão de que a crise foi causada, em muito, pela intervenção do Estado. Em consequência, este setor agrupou-se em torno de políticos dispostos a mergulhar ainda mais fundo nas políticas que levaram à crise.

Como isso aconteceu? A resposta de Frank é que a causa foram os próprios resgates. Ao agir à la Geithner, socorrendo os banqueiros sem rédeas e sem culpa, o governo Obama deixou grande parte público norte-americano irritado e com a sensação – correta – de que alguém estava fugindo com algo. A direita foi hábil em explorar essa sensação. O famoso discurso de Rick Santelli da CNBC, em fevereiro de 2009 – que iniciou o movimento Tea Party – foi uma denúncia do TARP, o resgate aos grandes bancos aprovado nos últimos dias da administração Bush (embora uma enormidade de eleitores acreditem que foi aprovado no governo Obama). É verdade que Santelli dirigiu toda a sua ira para uma parte ínfima do TARP – a ajuda prevista aos proprietários de imóveis em dificuldades, que, em grande parte, nunca se materializou – evitando mencionar o socorro muito maior oferecido aos bancos. Mas pelo menos ele estava culpando alguém, coisa que o governo Obama recusou-se a fazer.

E na hora em que Obama começou, timidamente, a sugerir que alguns banqueiros poderiam ter se comportado relativamente mal, já era tarde demais. Todo o Partido Republicano (e grande parte do eleitorado) já tinha aderido a uma narrativa na qual a crise financeira de 2008 – que se seguiu a 14 anos de domínio da extrema-direita republicana no Congresso e a oito anos nos quais os conservadores linha-dura controlaram todos os três ramos do governo – foi causada… por excesso de intervenção do governo, para ajudar os pobres e, especialmente, os não-brancos. Nas palavras de Frank:

O culpado, para variar, é o governo…. Os funcionários forçaram os bancos a oferecer empréstimos especiais para uma minoria de tomadores (…) e toda a crise financeira foi resultado da interferência do governo.

Desse modo, a direita consegue reposicionar-se como suposta inimiga do odiado “Big Business” – não porque ele maneja negócios, mas porque seria “insuficientemente capitalista”. Não há melhor prova da circulação deste ponto de vista, pontua Frank, que um artigo de Paul Ryan [o vice-presidente na chapa de Mitt Rommey], na Forbes de 2009. Intitulado “Abaixo o Big Business”, o texto exorta: “cabe ao povo americano – inovadores e empreendedores, pequenos empresários… tomar uma atitude”.

Mas por que a direita foi tão mais capaz de aproveitar o momento que Obama e companhia? Já vimos uma parte da resposta: os democratas em geral, e o presidente em particular, estavam próximos demais de Wall Street, para lidar com uma crise que os mercados financeiros haviam criado. Frank também destaca um ponto importante: no clima político recente, a ignorância tem sido realmente uma força… É preciso lembrar que o universo intelectual hermético que a direita criou para si mesma – uma espécie de realidade alternativa, murada contra qualquer evidência que possa contradizer a fé nas maravilhas do livre mercado e os males da intervenção do governo – seria um peso para o Partido Republicano. E ele, de fato, destroi a capacidade de formular políticas reais. Em termos políticos, no entanto, a atitude tem dado aos republicanos unidade e certeza, onde os democratas apresentam-se fracos e divididos.

E de onde a unidade republicana realmente vem? Frank não explica isso, mas há uma teoria nova e boa em A Era da Austeridade de Thomas Edsall. Curiosamente, não se trata da teoria que o próprio Edsall expõe.

Sua tese ostensiva de Edsall, desenvolvida já no início do livro, é de há escassez, na raiz de nossas novas batalhas políticas. Teríamos penetrado numa nova era de jogo pesado na política institucional, porque o encolhimento da economia e um déficit orçamentário considerável tornaram impossível satisfazer as necessidades dos dois partidos políticos ao mesmo tempo

Os dois principais partidos políticos estão presos em uma luta de morte para proteger os benefícios e bens que fluem para suas respectivas bases, cada um tentando expropriar os recursos do outro. Estamos diante de um futuro brutal.

No entanto, o máximo de evidência que Edsall arrola em favor desta é apontar para as consequências da crise econômica — que não, de modo algum, uma crise de escassez, mas sim de políticas financeira e macroeconômica ruins. Por que, exatamente, deveria haver uma “luta de morte” por recursos, quando a economia norte-americana poderia produzir, segundo estimativas do Gabinete do Orçamento do Congresso, 900 bilhões de dólares a mais, em bens e serviços – bastando recolocar em movimento os trabalhadores desempregados, e outros recursos não-utilizados? Por que deve haver uma luta amarga em torno do orçamento, quando o governo dos EUA, embora reconhecidamente tenha grandes déficits, continua capaz de obter empréstimos às taxas de juros mais baixas da história?

A verdade é que a austeridade que Edsall enfatiza é mais o resultado do que a causa da nossa política amargurada. Temos uma economia deprimida, em grande parte, porque os republicanos bloquearam quase todas as iniciativas propostas por Obama para criar empregos, recusando-se até mesmo a confirmar as indicações do presidente para o conselho do Federal Reserve (Peter Diamond, economista do MIT laureado com o Nobel, foi rejeitado por falta de qualificações suficientes…). Vivemos uma batalha enorme em torno dos déficits não porque eles realmente representem um problema imediato, mas porque os conservadores encontraram na histeria em torno deles uma maneira útil para atacar programas sociais.

Então de onde vem a amargura da política vem? Edsall fornece grande parte da resposta. Nomeadamente, o que ele retrata é um Partido Republicano radicalizado não pela luta por recursos – a carga tributária sobre os ricos é a menor em várias gerações –, mas por medo de perder o controle político, numa nação em processo de mudanças. A parte mais marcante de A Era da Austeridade, pelo menos segundo nossa leitura, é o capítulo enganosamente intitulado “A Economia da imigração”. Ele não diz muito seu título; o que faz, em vez disso, é documentar em que medida os imigrantes e os seus filhos estão, literalmente, mudando a cara do eleitorado americano.

Como Edsall admite, a face em mutação do eleitorado tem tido o efeito de radicalizar o Partido Republicano.

“Para os brancos de inclinação conservadora”, ele escreve – e não é esta a própria definição da base republicana? – a mudança para uma nação de minoria-maioria [isto é, uma nação na qual as minorias compõem a maioria quantitativa] irá reforçar a visão já amplamente difundida, de que programas que beneficiam os pobres estão transferindo os dólares do contribuinte para minorias – dos brancos para negros, primeiro; e agora, além de tudo, para os “pardos”.

É a retórica de Rick Santelli bem aqui, diante de nós.

O Partido Republicano poderia, em princípio, ter respondido a essas mudanças, tentando redefinir-se como uma agremiação para além das pessoas brancas. Em vez disso, escreve Edsall, a resposta tem sido “apostar que podem continuar a ganhar como um partido branco, apesar da crescente força do voto minoritário.” E isso significa uma estratégia de tratoragem radical, que vai desde política de imigração até os tributos – passando, é claro, pela questão do estímulo econômico, que beneficiaria em alguma medida também as minorias.

O efeito imediato desse confronto amargo tem sido paralisar a política econômica na crise. Obama poderia ter se aproveitado de uma janela de oportunidade, em seus primeiros meses na presidência. Mas, como mostra Scheiber, essa janela se perdeu e houve pouca possibilidade de ação efetiva desde então. Por isso, a contração se arrasta. Mas, como Thomas Mann e Norman Ornstein dizem no título de seu novo livro, é ainda pior do que parece [It’s Even Worse Than It Looks, no título original em inglês]. Eles argumentam que o Congresso – e, na verdade, o sistema político norte-americano – está perto de chegar ao colapso institucional. Entramos em uma nova política de “tomada de reféns”, eles nos dizem, sintetizada pela batalha de 2011 sobre o teto da dívida. E eles sugerem que o fiasco da política macroeconômica em curso pode ser apenas o começo.

É um livro notável, embora deprimente livro, especialmente impressionante dada sua origem. Mann e Ornstein são estudiosos do Congresso profundamente respeitados, e seu livro parece, na aparência, sintetizar o tipo de esforço bipartidário que os insiders de Washington dizem amar. Mann está na Brookings Institution, liberal; Ornstein, no American Enterprise Institute, conservador. No entanto, eles rejeitam a tentação de nublar suas conclusões em nome de “equilíbrio”. O que o país enfrenta, escrevem, não é um problema com o partidarismo em abstrato, e sim um problema com um partido:

Embora a imprensa tradicional e analistas não-partidários tenham dificuldade em compreender, um dos dois principais partidos, o Republicano, rumou para um extremo ideológico; desdenhoso da herança social e política da ordem política americana; incapaz de assumir compromissos; não persuasível pelo entendimento convencional de fatos, provas, e ciência; pouco respeitoso com a legitimidade de sua oposição política. Quando um partido se move dessa forma, para tão longe do centro da política norte-americana, é extremamente difícil implementar políticas que respondam aos desafios mais prementes ao país.

E onde, em tudo isso, está a esperança, que foi tão difundida em 2008? Francamente, é difícil encontrá-la agora. O presidente Obama tem parte da culpa por isso; ele escolheu ouvir as pessoas erradas, e, possivelmente, perdeu sua melhor chance de transformar a economia (Só para ficar claro, isso não é uma sugestão que Mitt Romney faria melhor. Pelo contrário, Romney está profundamente comprometido com a falsa narrativa republicana sobre o que aflige a nossa economia, e todas as indicações são de que, se ganhar, irá agravar dramaticamente uma má situação). Mas, no final das contas, o problema de fundo tem a ver com personalidades ou lideranças individuais. Diz respeito à nação como um todo. Algo deu muito errado com os Estados Unidos. Não envolve apenas sua economia, mas sua capacidade de funcionar como nação democrática. E é difícil prever quando e como o dano poderá ser sanado.

Por Paul Krugman e Robin Wells*, no New York Review of Books | Tradução de Hugo Albuquerque, para o Outras Palavras

Extraído do sítio Revista Fórum