31 maio 2012

O SAMBA DO TOGADO DOIDO - Izaías Almada

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Não! Não pense o leitor que vou aqui destilar mais uma catilinária contra o ministro Gilmar Mendes em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Até por que o ex-presidente é maior de idade e saberá se defender muito bem, pois tem grande experiência política e sabe lidar com situações de saia justa.

O que chama a atenção no atual episódio do encontro no escritório do ex-ministro Jobim é o emaranhado de versões repercutidas na imprensa com o propósito simples e cristalino de desviar o foco das investigações da Polícia Federal e, sobretudo, das sessões da CPMI Cachoeira/Veja/Demóstenes no Congresso Nacional.

A “defesa” do senador Demóstenes na Comissão de Ética do Senado e as novas acusações do ministro Gilmar Mendes ao ex-presidente Lula, bem como o silêncio do contraventor Carlos Cachoeira na CPMI, formam um painel expressivo de como a bandidagem insiste em tentar melar a CPMI e livrar a própria cara e de outros meliantes envolvidos, em particular em órgãos de imprensa comprometidos com toda essa semvergonhice.

Um escárnio com o Brasil que tenta trabalhar, vencer enormes desafios nas áreas da educação, da saúde, de saneamento básico. De um Brasil que tenta passar seu passado ditatorial a limpo, que tenta acabar com os juros escorchantes cobrados pelos bancos privados. De um Brasil que quer incentivar e aumentar o seu parque industrial, consolidar seu mercado interno, desenvolver regiões como o nordeste e tirar milhões da pobreza.

O discurso do senador Demóstenes na Comissão de Ética é uma pérola de cinismo e deboche com a sociedade brasileira, delatando alguns companheiros de viagem, invocando a proteção divina e sugerindo, vejam só quanta honradez, que a CPMI cumpra a sua função de ir a fundo na sua tarefa, como se ele – Demóstenes – estivesse ali por acaso ou, como cinicamente afirmou, por uma grande perseguição pessoal.

Antes dele, os jornais já haviam estampado a fotografia do silêncio de Cachoeira, com aquela expressão de quem encara o país de frente e – como o célebre personagem do saudoso Chico Anísio – pergunta: “Sou, mas quem não é?” Milhões não são, bicheiro Carlinhos, milhões não são. E esses muitos milhões exigem justiça e, acima de tudo, respeito. O seu silêncio na CPMI é o silêncio dos covardes.

E agora vem o valente e destemido ministro Gilmar Mendes, esse exemplo de profissional discreto para o cargo que ocupa, a lançar suspeitas para todos os lados, sempre e quando essas suspeitas possam atingir o ex-presidente Lula, o Partido dos Trabalhadores, alguns de seus aliados e a esquerda de um modo geral.

Há quem diga que não existe crise nenhuma e que o Brasil real não está dando bola para essas diatribes de Gilmar Mendes & Cia. Será? É sempre recomendável que em política nenhum de nós se comporte como os avestruzes que enfiam a cabeça no buraco. Crises políticas e institucionais podem surgir em 24 horas a pretexto deste ou daquele acontecimento.

Senão vejamos: militares da reserva e alguns da ativa, segundo se depreende por manifestos aqui e ali, estão receosos ou mesmo contra a instalação e os trabalhos da Comissão da Verdade; fazendeiros e usineiros estão descontentes com os vetos da presidenta ao Código Florestal; os bancos privados ainda não engoliram a baixa dos juros e não vão abrir mão assim sem mais nem menos de seus escorchantes lucros; os conglomerados mediáticos andam assustados com medidas ou leis que possam vir a regular a atuação do setor com a criação de uma nova Lei de Meios. Tudo isso a um só tempo.

Juntos, esses setores, mesmo que com alguns conflitos de interesses entre eles aqui e ali, sempre estiveram nas trincheiras do obscurantismo, do conservadorismo, apenas em defesa de seus negócios e contra os direitos dos trabalhadores que constituem a maioria da população brasileira. Não há que superestimá-los, concordo, mas também não se deve subestimá-los.

Quando um país que inicia sua caminhada para a maioridade tem na sua mais alta corte de justiça um togado cuja atuação e o linguajar lembram mais nossas jagunçadas interioranas, torna-se necessário que botemos as barbas de molho. Ninguém é bandido até prova em contrário… E muito menos santo.

* Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros TEATRO DE ARENA, UMA ESTÉTICA DE RESISTÊNCIA, da Boitempo Editorial e VENEZUELA POVO E FORÇAS ARMADAS, Editora Caros Amigos.


Extraído do sítio Escrevinhador, de Rodrigo Vianna

GILMAR E DEMÓSTENES NA FORMATURA DE PERILLO - Luis Nassif

O Ministro Gilmar Mendes informou ter recebido apenas duas caronas do senador Demóstenes Torres. Uma delas, para ser paraninfo de uma formatura em Goiânia. No vídeo, a formatura: era do governador Marconi Perillo.

Em princípio, nada que comprometa Gilmar - a não ser a possível carona no avião de Cachoeira.

Mas a cada dia que passa mostra mais a intimidade entre ele e Demóstenes: contratação do araponga Jairo, ligado a Cachoeira; palestra na faculdade de Demóstenes, em Minas; encontros na Europa; paraninfo de formatura com cunho político, de Marconi Perillo; empenho de Demóstenes para que julgasse os dados da CELG.


Extraído do sítio Luis Nassif Online

Ler também:

GILMAR MENDES NÃO É O SUPREMO - Mauro Santayanna



Engana-se o senhor Gilmar Mendes, quando denuncia uma articulação conspiratória contra o Supremo Tribunal Federal, nas suspeitas correntes de que ele, Gilmar, se encontra envolvido nas penumbrosas relações do senador Demóstenes Torres com o crime organizado em Goiás.

A articulação conspiratória contra o Supremo partiu de Fernando Henrique Cardoso, quando indicou o seu nome para o mais alto tribunal da República ao Senado Federal, e usou de todo o rolo compressor do Poder Executivo, a fim de obter a aprovação. Registre-se que houve 15 manifestações contrárias, a mais elevada rejeição em votações para o STF nos anais do Senado.

Com todo o respeito pelos títulos acadêmicos que o candidato ostentava — e não eram tão numerosos, nem tão importantes assim — o senhor Gilmar Mendes não trazia, de sua experiência de vida, recomendações maiores. Servira ao senhor Fernando Collor, na Secretaria da Presidência, e talvez não tenha tido tempo, ou interesse, de advertir o presidente das previsíveis dificuldades que viriam do comportamento de auxiliares como PC Farias.

Afastado do Planalto durante o mandato de Itamar, o senhor Gilmar Mendes a ele retornou, como advogado-geral da União de Fernando Henrique Cardoso. Com a aposentadoria do ministro Néri da Silveira, Fernando Henrique o levou ao Supremo. No mesmo dia em que foi sabatinado, o jurista Dalmo Dallari advertiu que, se Gilmar chegasse ao Supremo, estariam “correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional”. Pelo que estamos vendo, Dallari tinha toda a razão. O STF deve julgar, como se espera, o processo conhecido como Mensalão, como está previsto 

Gilmar, como advogado-geral da União — e o fato é conhecido — recomendara aos agentes do Poder Executivo não cumprirem determinadas ordens judiciais. Como alguém que não respeita as decisões da justiça pode integrar o mais alto tribunal do país? Basta isso para concluir que Fernando Henrique, ao nomear o senhor Gilmar Mendes, demonstrou o seu desprezo pelo STF. O Supremo, pela maioria de seus membros, deveria ter o poder de veto em casos semelhantes.

Esse comportamento de desrespeito — vale lembrar — ocorreu também quando o senhor Francisco Rezek renunciou ao cargo de ministro do Supremo, a fim de se tornar ministro de Relações Exteriores, e voltou ao alto tribunal, reindicado pelo próprio Collor. O episódio, tal como a posterior indicação de Gilmar, trouxe constrangimento à República. Ressalve-se que os conhecimentos jurídicos de Rezek, na opinião dos especialistas, são muito maiores do que os de Gilmar.

Mas se Rezek não servia como chanceler, por que deveria voltar ao cargo de juiz a que renunciara? São atos como esses, praticados pelo Poder Executivo, que atentam contra a soberania da Justiça, encarnada pelo alto tribunal.

A nação deve ignorar o esperneio do senhor Gilmar Mendes. Ele busca a confusão, talvez com o propósito de desviar a atenção do país das revelações da CPI. O Congresso não se deve intimidar pela arrogância do ministro, e levar a CPMI às últimas consequências; o STF deve julgar, como se espera, o processo conhecido como Mensalão, como está previsto.

Acima dos três personagens envolvidos na conversa estranha que só o senhor Mendes confirma, lembremos o aviso latino, de que testis unus, testis nullus, está a nação, em sua perenidade. Está o povo, em seus direitos. Está a República, em suas instituições.

O senhor Gilmar Mendes não é o Supremo, ainda que dele faça parte. E se sua presença naquele tribunal for danosa à estabilidade republicana — sempre lembrando a forte advertência de Dallari — cabe ao Tribunal, em sua soberania, agir na defesa clara da Constituição, tomando todas as medidas exigidas. Para lembrar um autor alemão, Carl Schmitt, que Gilmar deve conhecer bem, soberano é aquele que pratica o ato necessário.


Extraído do sítio Jornal do Brasil

PLANOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS DEVEM INCLUIR CATADORES DE RUA - Heloísa Bio

Em São Paulo, quase 20 mil catadores realizam a coleta seletiva do lixo, em meio à ausência de uma política de resíduos sólidos

Pelos princípios da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), os municípios brasileiros têm até 2014 para separar e coletar seus resíduos, descartando somente os rejeitos que não são passíveis de reaproveitamento. Com essa medida será possível reduzir o lixo de uma megalópole como São Paulo de 11 mil toneladas/dia para 2,2 mil toneladas/dia em menos de dois anos.

No entanto, apesar da legislação da capital paulista determinar a elaboração de um Plano Municipal de Resíduos Sólidos até agosto de 2012, até hoje nada foi feito no sentido. Nesse contexto, grande parte da coleta seletiva da cidade acaba passando pela mão dos catadores, que além de colaborar com o poder público e a sociedade, atuam como agentes ambientais do meio urbano.

Atualmente, quase 20 mil catadores de rua prestam este serviço público, realizando a coleta e o envio de papéis, plásticos, latinhas e vidros para as cooperativas e, com isso, evitando o consumo de novas matérias-primas para a fabricação de mais produtos. Calcula-se que 90% de alguns materiais recicláveis que chegam à indústria possam ter sido coletados por catadores, segundo Eduardo Ferreira, da Rede Cata Sampa – composta por 15 cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis – e liderança do Movimento Nacional dos Catadores.

Eduardo Ferreira e Rizpah Besen - Foto: Heloísa Bio

Ferreira e a coordenadora de programas da ONG Instituto 5 Elementos, Rizpah Besen, debateram o tema na sessão do filme “À Margem do Lixo”, no ultimo dia 10, no Cineclube Socioambiental Crisantempo. O documentário de Evaldo Mocarzel, além de acompanhar a rotina dos catadores na cidade de São Paulo, mostra a articulação política da categoria e os avanços com um maior apoio político federal.

“Além da mudança de visão, reconhecendo que os resíduos sólidos não são lixo, mas bens econômicos, e da previsão do fim dos lixões no país, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos contempla a inclusão dos catadores. [...] A coleta seletiva não é sustentável sem esse grupo, ou seja, sem a vertente social”, expressa Rizpah.

O reconhecimento social dos catadores é baixo e dados mostram que empresas de coleta de materiais recicláveis movimentam a maior parcela dos recursos. Ainda, o fato de um caminhão fazer a coleta seletiva em São Paulo não quer dizer que a reciclagem vai ocorrer. Cerca de 60% do material da coleta das concessionárias vai para o lixo comum, enquanto muitas centrais não conseguem absorver a demanda da separação. “São 96 distritos no município, o ideal era cada um ter pelo menos uma cooperativa de catadores para absorver a quantidade de materiais da cidade”, esclarece Ferreira.

Enquanto assiste a toneladas de resíduos secos serem dispostas em aterros e paga caro pelo transporte dos resíduos a locais cada vez mais distantes, o município não dá mostras de qualquer avanço na elaboração de seu Plano Municipal de Resíduos Sólidos.

Panorama nacional

Foto: Elza Fiúza/ABr

O Brasil avançou pouco no que se refere à gestão dos resíduos sólidos urbanos em 2011. Esta é uma das conclusões da nova edição do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) apresentado no último dia 8 em São Paulo. A destinação final ainda aparece como o principal problema a ser superado.

De acordo com a publicação, no ano passado, 3.371 municípios brasileiros, 60,5% do total, deram destino inadequado a mais de 74 mil toneladas de resíduos por dia, que seguiram para lixões e aterros controlados, sem a devida proteção ambiental. “Com a quantidade de resíduos que tiveram destino inadequado no país seria possível encher 56 piscinas olímpicas em cada dia do ano. Outras 6,4 milhões de toneladas sequer foram coletadas, o que equivale a 45 estádios do Maracanã repletos de lixo. Os dados mostram que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) ainda não começou a produzir efeitos e resultados concretos nos vários sistemas e nem no cenário atualmente implementado”, comenta o diretor executivo da Abrelpe, Carlos Silva Filho.

Segundo o estudo, quase 62 milhões de toneladas de resíduos sólidos foram geradas em 2011, 1,8% a mais que em 2010 - percentual duas vezes maior que a taxa de crescimento da população no mesmo período. “Esse dado é importante, pois revela que o volume de geração cresceu em uma proporção menor do que nos anos anteriores, mas continua numa curva ascendente”, observa Silva Filho. A edição anterior do Panorama apontou um aumento de 6,8% na geração.

“Das 55,5 milhões de toneladas de resíduos coletadas em 2011, 58,1% foram dispostos em aterros sanitários”, acrescenta Silva Filho, ao destacar que o índice evoluiu apenas 0,5% em relação a 2010. A geração per capita média do país foi de 381,6 kg por ano, valor 0,8% superior ao do ano anterior.

Outro dado da publicação diz respeito aos recursos aplicados pelos municípios para custear os serviços de limpeza urbana. Em 2011, a média mensal por habitante foi de R$ 10,37, o que equivale a um aumento de 4% se comparado a 2010. “É ainda um valor muito inferior ao mínimo necessário para garantir a universalização dos serviços, tendo em vista uma gestão baseada na hierarquia dos resíduos, conforme preconiza a PNRS”, alerta o diretor da associação.

Dos 5.565 municípios brasileiros, 58,6% afirmaram ter iniciativas de coleta seletiva, o que significa um aumento de 1% em relação a 2010.


Extraído do sitio Brasil de Fato

NÃO DESCARTÁVEIS - Gisele Brito

Fim de lixões garante melhoria ambiental, mas tira trabalho de catadores. Experiência positiva em Gramacho é exceção.

O maior lixão do País e da América Latina tem data marcada para encerrar suas atividades: 5 de junho. Situado em Duque de Caxias (RJ), às margens da Baía de Guanabara, o lixão de Gramacho recebia resíduos de toda a região metropolitana fluminense. Ele ganhou fama internacional devido ao documentário "Lixo Extraordinário". Após anos de negociação, os 1.063 catadores que retiravam da montanha gelatinosa de lixo acumulado ao longo de mais de 3 décadas seu sustento conseguiram garantir ressarcimento pela perda do posto de trabalho. A prefetura do Rio, em parceira com a União, irá pagar cerca de R$ 14 mil reais a cada um deles, além de garantir um fundo para a melhoria do bairro que o circunda.

"A gente tenta passar a experiência que tivemos aqui. Queremos que isso vire uma política pública. Vai fechar? Tem que ter investimento no catador, dar capacitação, dar opção", explica Alexandre Freitas Mariano, vice-presidente da Cooperativa de Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho.

Mas a história de sucesso da luta dos catadores de Gramacho ainda é uma exceção. Em fevereiro, o lixão de Itaoca, em São Gonçalo (RJ), encerrou suas atividades empurrando centenas de catadores para situação ainda mais precária do que a anterior. A empresa que passou a explorar o biogás proveniente da decomposição do lixo no solo paga R$ 200 para as famílias, mas o valor é considerado insuficiente pelos catadores do lixão.

Ao todo, existem 2.906 lixões no Brasil, espalhados por 2.810 munícipios, o equivalente a 50,5% das cidades brasileiras, segundo estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em muitos deles há catadores ameaçados de perder sua única fonte de renda. Até 2014, todos os lixões – áreas com dejetos a céu aberto – terão de ser fechados para atender as exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010. Os resíduos terão de ser reciclados ou levados para aterros sanitários – onde o lixo é enterrado, e o chorume e os gases são controlados. Mas os catadores exigem que a PNRS seja cumprida integralmente, especialmente seus artigos que tratam da inclusão dos catadores de material reciclável.

"Todo o processo para o fechamento dos lixões tem que ser dialogado. Não pode ser uma coisa do tipo ‘bala, polícia, cerca’. É preciso levar sustentabilidade e dignidade do ponto de vista do trabalho e da moradia. É preciso impedir a exclusão dentro da exclusão com políticas públicas. A PNRS garante isso", diz Elisabeth Grimberg, uma das coordenadoras do Instituto Pólis.

Extraído do sítio Folha Universal

Ler também:
Jornal de Floripa: Lixão no Rio será fechado sem avaliação da contaminação ambiental


FOTOS DO LIXÃO DE GRAMACHO. 
Fotos realizadas durante ensaio fotográfico. 
Fotos de Kadu Niemeyer

30 maio 2012

"GILMAR MENDES FOI LEVIANO E MENTE", DIZ PAULO LACERDA, EX-DIRETOR DA PF E ABIN - Bob Fernandes


Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo publicada nesta quarta-feira, 30, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes lançou acusações contra Paulo Lacerda, ex-diretor da Policia Federal e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência):

- Dizem que ele (Lacerda) está assessorando o PT. Tive informação em 2011 que o Lacerda queria me pegar. 

Segundo O Estado de S.Paulo, Gilmar Mendes suspeita que Lacerda estaria divulgando "informações falsas" para atingi-lo. E, também, que estaria assessorando o ex-presidente Lula. Terra Magazine ouviu Paulo Lacerda no início da tarde desta quarta-feira. Feita a ressalva "não sei se ele disse isso", Paulo Lacerda, habitualmente sereno e cordato, respondeu a Gilmar Mendes com dureza:

- Se ele falou isso, ele foi leviano e mente.

Lacerda, que hoje trabalha numa associação de empresas de segurança privada, conta que não vê Lula há anos, assim como Gilmar Mendes, e rebate as acusações:

- Estou aposentado, não trabalho com investigação (…) não trabalho para partido nenhum, não assessoro nem à CPI nem ao ex-presidente Lula (…) Se as informações que ele diz ter recebido são dessas mesmas fontes, se foram essas fontes e informações que o levaram a dizer o que anda dizendo, tá explicado porque ele está dizendo essas coisas e dessa forma.

Por fim, sobre informação atribuída também ao ministro e publicada no sábado, 26, em O Globo, dando conta que o espião Dadá seria seu homem de confiança, Paulo Lacerda devolve:

- Eu nem conheço o Dadá, jamais tive contato com ele e nunca estive com ele. Portanto, faço a ressalva: se o ministro Gilmar Mendes de fato disse isso… essa é mais uma informação leviana, irresponsável e mentirosa.

Terra Magazine: O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, disse em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo: "Lacerda tinha como missão me destruir", e que o senhor queria "pegá-lo". Disse também que "dizem" que o senhor estaria assessorando o PT e municiando o presidente Lula com informações…

Paulo Lacerda: Soube pelo jornal. O absurdo é tamanho que não sei como ele se permite dizer aquilo. Se ele disse aquilo, respondo: primeiro, o ministro Gilmar está totalmente desinformado sobre a minha vida profissional e pessoal. Estou aposentado da Polícia Federal depois de dois anos e meio de adidância em Lisboa e trabalho hoje para a Associação de Empresas de Segurança Privada. Não trabalho com nada, nada de investigação, e quem me conhece e à minha vida hoje sabe disso. Sabe o que é mais espantoso?

- O quê?

- É que é com base nesse tipo de informações que o ministro está recebendo é que se criou essa crise toda. Se as informações que ele diz ter recebido são dessas mesmas fontes, se foram essas fontes e informações que o levaram a dizer o que anda dizendo nos últimos dias, tá explicado porque ele está dizendo essas coisas e dessa forma. Ele, de novo, mais uma vez, está totalmente mal informado.

- O senhor não presta assessoria à CPI, ao PT ou ao ex-presidente Lula?

- Não vejo o presidente Lula, assim como o ministro Gilmar Mendes, desde que deixei o governo. Isso é ridículo. Não assessoro o PT nem a partido algum e é um delírio supor, achar e dizer que assessoro o ex-presidente Lula. Basta perguntar aos senadores e deputados da CPI se assessoro à CPI ou a algum parlamentar. Basta perguntar aos assessores do Lula se alguém tem algum vestígio de presença minha, de contato meu com ele. Sou aposentado, até poderia trabalhar para quem me convidasse e eu quisesse, mas isso não é verdade. É absoluta inverdade. Impressiona e é preocupante como um ministro do Supremo não se informa antes de dizer esses absurdos.

- Mas o que exatamente é absurdo?

- Tudo isso. São informações totalmente tendenciosas. Eu não estou trabalhando para partido algum, político nenhum. Ele está exaltado, sem controle, não sei se por conta dessa conversa com o ex-presidente, mas nada disso é verdade. E isso é muito fácil de checar.

- O senhor e o ministro Gilmar Mendes já tiveram um problema sério…

- Em setembro de 2008, ele procurou o presidente Lula e acusou a Abin, que eu dirigia, de ter feito grampos ilegais na Operação Satiagraha. Aquilo era mentira. Não foi feito grampo algum ilegal por parte da Abin… aliás, a CPI de agora é uma ótima oportunidade para investigarem aquela armação. Não existiu grampo algum, mas o ministro Gilmar Mendes foi ao presidente da República com base em uma informação falsa. Espero que agora apurem tudo aquilo.

- O que mais o incomoda?

- Eu não vi o ministro Gilmar Mendes falar isso, eu li no jornal. Não sei se ele falou, mas se ele falou, foi leviano e mente. Se falou isso o ministro Gilmar Mendes mentiu. Estou aposentado da área pública, todos sabem disso. Não teria nenhum impedimento, de ordem alguma, para trabalhar com investigação, mas não quero, e isso que ele disse, se disse, não é verdade.

- Alguma vez, depois do episódio em 2008, do tal grampo cujo áudio nunca apareceu, o ministro Gilmar e o senhor falaram sobre o episódio? Em algum momento ele reconheceu não ter ouvido o tal grampo, se desculpou?

- Não. Repito, não vejo o ministro e o ex-presidente Lula há anos. E não houve desculpa alguma… e acho que a CPI agora seria ótima oportunidade para esclarecer isso de uma vez por todas, embora a Polícia Federal já tenha concluído que não houve grampo algum da Abin…

- Essa CPI de agora, a do Cachoeira, tem alguns personagens comuns com aquele caso, fala-se muito no espião Dadá…

- A propósito. O ministro Gilmar Mendes teria dito ao jornalista Moreno que esse cidadão, Dadá, é ou era meu braço direito, meu homem de confiança. Respondi por escrito, mandei um e-mail para o Moreno, que é um jornalista… ele recebeu uma informação de um homem público e a publicou. Por isso enviei a resposta direto para ele e para o jornal O Globo.

- E qual é a resposta?

- Eu nem conheço o Dadá, jamais tive contato com ele e nunca estive com ele. Portanto, faço a ressalva: se o ministro Gilmar Mendes de fato disse isso…

- Sim, a ressalva está registrada

- Se ele disse isso, essa é mais uma informação leviana, irresponsável e mentirosa.


Extraído do sítio Terra

APÓS POLÊMICA COM GILMAR MENDES, LULA DIZ QUE PRECISA "TOMAR CUIDADO" COM QUEM NÃO GOSTA DELE



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou nesta quarta-feira (30) mais uma vez falar com a imprensa e entrar na polêmica que se envolveu desde o último final de semana com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, sobre o julgamento do processo do mensalão. Ao participar do 5º Fórum Ministerial de Desenvolvimento, em Brasília, Lula fez apenas uma referência aos que não gostam dele.

— Vou falar em pé senão podem dizer que estou doente, para evitar esses dissabores. Você sabe que eu tenho muita gente que gosta (de mim) e alguns que não gostam. Então, eu tenho que tomar cuidado contra esses daí que são minoria e estão aí no pedaço.

Lula aproveitou o evento para fazer comentários sobre a crise econômica e disse que solução não é diminuir o consumo ou tomar medidas econômicas de austeridade. Ele disse que o problema da crise atual é de falta de gestão política.

O ex-presidente fez um discurso em que sugeriu às nações desenvolvidas que tomassem medidas de ampliação de consumo e de inclusão de outros mercados consumidores como a África e América Latina.

O ex-presidente aproveitou ainda a ocasião para criticar a imprensa que, segundo ele, não tem tirado "a bunda da cadeira" para verificar as transformações sociais obtidas no seu governo e no início do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Ele também saiu em defesa da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. O ex-presidente disse que, na primeira audiência de um processo que a envolve na justiça de Brasília, a testemunha contra a ex-ministra (que ele não revelou quem é) retirou a acusação que tinha contra ela. Ele observou que não houve nenhuma "nota de rodapé" nos jornais. Erenice Guerra deixou o governo Lula em setembro de 2010, depois de acusações de tráfico de influência.

Lula chegou ao evento às 17h27, no carro da ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, e não falou com a imprensa. Dez minutos depois começou seu discurso que, embora tenha uma recomendação médica, segundo ele, para que sua fala durasse 15 minutos, foi de uma hora e sete minutos.

Esse foi o segundo compromisso da agenda de Lula em Brasília nesta quarta-feira. Mais cedo, ele almoçou com a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada.

Extraído do sítio R7

UM RAIO-X DOS VETOS E ALTERAÇÕES DO CÓDIGO FLORESTAL - Felipe Prestes

Anúncio de mudanças foi feito no último dia 25 | Foto: José Cruz/ABr
Foram publicados nesta segunda-feira (28) no Diário Oficial o novo Código Florestal, com os vetos feitos pela presidenta Dilma Rousseff, e a medida provisória 571/2012, que contém as alterações no texto aprovado pelo Congresso. A principal alteração em relação ao texto do Congresso é a necessidade de recompor vegetação às margens de cursos d’água, nascentes, olhos d’água, lagos e lagoas, além de veredas, nas “áreas consolidadas”, onde já há produção antes de 22 de julho de 2008. O relatório de Piau praticamente desobrigava a recomposição nestas áreas. O Planalto propôs um escalonamento, definindo o tamanho da área a ser recomposta de acordo com o tamanho da propriedade.

Outra mudança importante foi a instituição pelo Governo de um capítulo sobre apicuns e salgados, áreas frequentemente inundadas por marés e que servem para a extração de sal e criação de camarão em cativeiro. Estas áreas haviam ficado desprotegidas no texto do relator Paulo Piau (PMDB-MG). Também ganharam atenção do Planalto as “áreas úmidas”, ignoradas pelo peemedebista.

O Governo fez voltar vários artigos do texto do Senado, que havia sido fruto de acordo entre ruralistas e o Planalto e que foi mutilado ao voltar para a Câmara. A relatoria da MP no Senado ficará com Luiz Henrique Silveira (PMDB-SC), que havia sido relator do Código Florestal. O texto do Senado, entretanto, só se tornou minimamente palatável a ambientalistas depois que a relatoria foi para as mãos de Jorge Vianna (PT-AC).

PRINCÍPIOS – O artigo 1º do Código no texto de Piau era apenas uma breve introdução, explicando sobre o que a lei versaria. O Governo voltou com o texto do Senado, que estabelece oito princípios para o Código Florestal, entre eles o “reconhecimento das florestas existentes no território nacional e demais formas de vegetação nativa como bens de interesse comum a todos os habitantes do País” e a “afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas florestas e demais formas de vegetação nativa, da biodiversidade, do solo e dos recursos hídricos, e com a integridade do sistema climático, para o bem-estar das gerações presentes e futuras”.

DEFINIÇÕES MAIS CLARAS – O artigo 3º estabelece o significado de diversas palavras e expressões que são tratadas ao longo do Código Florestal. O inciso XI foi vetado. Ele definia a prática do pousio, que é uma interrupção temporária das atividades em determinada extensão de terra para recuperação do solo. No texto de Piau a prática não tinha limites. A qualquer momento, o produtor poderia alegar que sua terra não é improdutiva, mas que está em pousio, e usar isto para justificar novos desmatamentos. O Governo colocou nova definição mais específica para pousio: “prática de interrupção de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais, por no máximo cinco anos, em até 25% da área produtiva da propriedade ou posse, para possibilitar a recuperação da capacidade de uso ou da estrutura física do solo”. Ainda no artigo 3º, o Governo incluiu a definição “áreas úmidas” que haviam ficado desprotegidas no relatório de Piau: “pantanais e superfícies terrestres cobertas de forma periódica por águas, cobertas originalmente por florestas ou outras formas de vegetação adaptadas à inundação”.

Governo definiu de forma mais específica alguns pontos do Código, como a APP em veredas | Foto: Denis A. C. Conrado/Wikimmedia Commons

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – No artigo 4º, que dispõe sobre a delimitação das áreas de preservação permanente, o Governo incluiu uma definição mais clara sobre as APPs em veredas, que estavam definidas apenas como “em veredas” no relatório de Piau, e ficaram com a seguinte definição: “em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado”. Foi vetado o parágrafo 3º do que dizia que áreas de várzea, apicuns e salgados não seriam APPs se não estivessem dentro das faixas marginais de cursos d’água já definidas pela lei. Foram vetados os parágrafos 7º e 8º que atribuíam aos planos diretores dos municípios o poder de definir as APPs em áreas urbanas. No artigo 6º, o Governo incluiu as áreas úmidas entre aquelas que podem ser declaradas APP pelo Executivo.

APICUNS E SALGADOS – São áreas situadas em regiões inundadas com frequência por marés, que são utilizadas para extração de sal e criação de camarão em cativeiro (carcinicultura). Estas áreas estavam sendo consideradas desprotegidas pelo relatório de Piau. O Governo criou um capítulo específico intitulado “Do Uso Ecologicamente Sustentável de Apicuns e Salgados”. O novo texto impõe limite por Estado de utilização destes locais, de 10% no bioma amazônico e de 35% no restante do país, com exceção áreas consolidadas, onde já havia a atividade antes de 22 de julho de 2008. Também impõe licenciamento ambiental das atividades a cada cinco anos, proteção absoluta de manguezais arbustivos, garantia de manutenção da qualidade da água e do solo. Áreas maiores que 50 hectares precisarão de EIA-RIMA (estudo e relatório de impacto ambiental). Quem produz em áreas consolidadas precisará se regularizar, se comprometendo a proteger os manguezais arbustivos.

RESERVA LEGAL – As regras para a cobertura de vegetação nativa que deve existir em qualquer propriedade rural não sofreram grandes alterações pelo Governo Federal em relação ao texto aprovado no Congresso. A parte da delimitação das reservas legais permaneceu intacta. Na Amazônia Legal será de 80% em área de florestas; 35% em área de cerrado; e 20% em área de campos gerais. Nas demais regiões do país é de 20% em qualquer bioma. Na parte de recomposição de Reserva Legal houve apenas uma mudança. O produtor tinha dois anos para iniciar a recomposição, mas não havia data para concluir. Com a alteração, haverá um prazo fixado em termo de compromisso pelo produtor no Programa de Regularização Ambiental (PRA), que ainda precisará ser implementado.

Na justificativa dos vetos, presidenta disse que empreendimentos hidrelétricos e abastecimento não podem recompor bacias hidrográficas, sob pena de encarecer demais os produtos ao consumidor | Foto: Antônio Cruz / ABr

GOVERNO SE PRESERVA DE POSSÍVEIS DESPESAS – O capítulo X trata da criação do Programa de Apoio e Incentivo à Preservação e Recuperação do Meio-Ambiente, que inclui a dedução de impostos para gastos com recomposição de APP e Reserva Legal, concessão de créditos, entre outros possíveis incentivos. No texto de Piau, o Governo tinha 180 dias para instituir o programa. O Governo retirou e não colocou nenhum prazo no lugar. O artigo 43º, que foi vetado, fixava que as empresas públicas de geração de energia elétrica ou abastecimento de água deveriam investir em APPs em toda a bacia hidrográfica a que estivessem explorando. A presidenta Dilma Rousseff justificou o veto afirmando que encareceria muito o preço dos serviços para o consumidor. O artigo 58º, por sua vez, dizia que o Poder Público “instituirá” programa de apoio técnico e incentivos financeiros ao agricultor familiar para atividades como “preservação voluntária de vegetação nativa acima dos limites estabelecidos”, “proteção de espécies da flora nativa ameaçadas de extinção”, “promoção de assistência técnica para regularização ambiental e recuperação de áreas degradadas”, “produção de mudas e sementes”, entre outras. O Governo trocou a expressão “instituirá” por “poderá instituir”.

RECOMPOSIÇÃO DE APPS EM ÁREAS CONSOLIDADAS – Mudou bastante. Enquanto o texto de Paulo Piau praticamente desobrigava a recomposição nas áreas rurais anteriores a 22 de julho de 2008, o Governo obriga agora todos os produtores a recompor. O Planalto criou um escalonamento de recomposição de acordo com o tamanho da propriedade. A recomposição em margens de cursos d’água vai de cinco metros (em propriedades de até um módulo fiscal) até cem metros (em grandes propriedades, dependendo da largura do rio). Em nascentes e espelhos d’água o escalonamento vai de cinco a 15 metros. Em lagos e lagoas, de cinco a 30 metros. Em veredas, de 30 a 50 metros. Gerou fortes críticas de ambientalistas a possibilidade de recomposição com plantas exóticas, o que fez com que o Planalto publicasse nesta terça (29) uma retificação. Só pode recompor com plantas exóticas quem tem propriedade de até um módulo fiscal. O Poder Público poderá intervir, exigindo mais recomposição, onde houver risco de erosão ou inundações, ou em “bacias hidrográficas consideradas críticas”. Para proprietários de imóveis rurais em áreas consolidadas com até dois módulos fiscais, a recomposição de APP não pode ultrapassar 10% de sua propriedade. Entre dois e quatro módulos fiscais, não pode ultrapassar 20%.

BLOQUEIO A CRÉDITO PARA QUEM NÃO SE CADASTRAR – O Planalto retomou, com o artigo 78º-A, uma sanção prevista no texto do Senado ao produtor que não se inscrever ou não estiver com situação regular no Cadastro Ambiental Rural (CAR), que ficará proibido de contrair crédito financeiro. “Após cinco anos da data da publicação desta Lei, as instituições financeiras só concederão crédito agrícola, em qualquer de suas modalidades, para proprietários de imóveis rurais que estejam inscritos no Cadastro Ambiental Rural – CAR e que comprovem sua regularidade nos termos desta Lei”, diz o artigo, que havia sido suprimido por Paulo Piau.

Para ambientalistas, presidenta manteve anistia a desmatamentos | Foto: Antônio Cruz/ABr
Entidades em defesa das florestas avaliam como insuficientes as mudanças

O Comitê Brasil em Defesa das Florestas, que reúne dezenas de entidades ambientais e movimentos sociais do campo, avaliou que a presidenta Dilma Rousseff não cumpriu sua promessa de não anistiar desmatadores, apesar de ter contrariado “interesses dos setores mais arcaicos do latifúndio”. Eles criticaram não tanto os vetos e alterações, mas o que o Governo deixou de mexer. O Comitê considera que houve anistia porque foram consideradas áreas consolidadas aquelas em que houve desmatamento até 22 de julho de 2008. Isto não se justificaria porque a última legislação sobre APP é de 1989 e sobre Reserva Legal é de 1996. Portanto, os desmatamentos feitos neste período em APP ou RL foram feitos descumprindo a legislação vigente.

Além disto, o Comitê ressalta que a recomposição de APPs proposta pelo Planalto é apenas para margens de cursos d’água, lagos, lagoas, espelhos d’água, nascentes. Assim, o Comitê considera que houve “anistia total” para ocupações em topos de morro, encostas e manguezais. As entidades também afirmam que haverá anistia de até 80% de recomposição em matas ciliares, porque a recomposição de APPs em margens de rios variava entre 30 a 500 metros no Código anterior e agora variará de 5 a 100 metros. Quanto a nascentes, espelhos d’água, lagos e lagoas, estimam que haverá anistia de recomposição entre 50 e 80% do que precisaria ser feito pela legislação anterior.

Pela falta de mudanças do Planalto com relação ao texto do Congresso, as entidades apontam também que haverá redução de Reserva Legal em relação ao Código Florestal anterior, inclusive na Amazônia. O Comitê também critica o veto ao artigo 43º que previa recomposição pelos setores elétrico e de abastecimento de água em toda a bacia hidrográfica em que estiverem explorando, “único incentivo positivo (econômico) concreto para recomposição de APPs (contribuição do setor elétrico) previsto na Lei aprovada pelo Congresso”, segundo as entidades.

Paulo Piau considerou Dilma "corajosa" | Foto: Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Entidades do campo e parlamentares ruralistas se dividem

O Código Florestal dividiu pequenos e grandes produtores e representantes da bancada ruralista. O próprio Paulo Piau, relator do texto que sofreu 12 vetos e 32 alterações, pareceu satisfeito com o resultado. Ele afirmou que a presidenta foi “corajosa” ao não ceder às pressões por veto total ao projeto. Piau disse que os ruralistas vão tentar alterar na MP algumas normas, como a definição de pousio, a qual, para ele, não pode ser a mesma para todo o país. “Definir em uma lei geral cinco anos e 25% da propriedade para valer para a Floresta Amazônica, para a Caatinga e para a Mata Atlântica, tecnicamente não é conveniente”, disse.

Reação bem diferente teve o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) que sugeriu que iria entrar com uma ação no STF contra a Medida Provisória e qualificou os vetos de Dilma como uma “atitude truculenta” e um desrespeito ao Congresso. A presidenta da CNA, Kátia Abreu, por sua vez, declarou no Twitter, logo após a divulgação dos vetos no dia 25 que a “caneta da presidenta Dilma foi verde-amarela”. “Pequenos produtores foram beneficiados com o novo Código”, escreveu na rede social.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) também avaliou como positiva a intervenção do Governo no Código Florestal. Em nota oficial, a entidade disse que “o objetivo dos vetos é beneficiar a agricultura familiar que ficou prejudicada na redação do relator da Câmara e recompor o conteúdo do texto do Senado que trata da conservação e a preservação ambiental, além de retirar a insegurança jurídica e o risco de inconstitucionalidade resgatando o texto do Senado”.

A CONTAG destacou como positivo o escalonamento da recomposição de APPs, justamente um dos fatores que desagradou parte dos grandes produtores. A Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (FARSUL), por exemplo, afirmou que o Governo está criando divisões entre o agricultor. “Hoje existem duas leis, uma para pequenos produtores com até quatro módulos fiscais, e outra para os demais. Entendíamos que não existiria mais esta prática de governo embasada na máxima de que dividir é melhor para administrar. Para a Farsul, produtor rural não tem tamanho”, disse o presidente da entidade, Carlos Sperotto.


Extraído do sítio Sul21

VENEZUELA RETRUCA GILMAR MENDES - Altamiro Borges

Nos últimos dias, o desesperado Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), queimou várias vezes a língua. Hoje foi a vez da Embaixada da Venezuela divulgar uma nota oficial criticando as suas declarações desrespeitosas sobre o país vizinho. Em entrevista ao jornal O Globo, o bravateiro direitista afirmou, de forma leviana e irresponsável, que "o Brasil não é a Venezuela de Chávez, onde o mandatário, quando contrariado, mandou até prender juiz".

De imediato, o embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil, Maximilien Arveláiz, rechaçou as declarações nada diplomáticas do ministro do STF. 

Leia a íntegra da nota oficial:

As declarações do ministro do STF Gilmar Mendes ao jornal O Globo, se de fato ocorreram, constituem uma afronta à população venezuelana, e demonstram profunda ignorância sobre a realidade de nosso país.

Nossa Constituição, elaborada pela Assembleia Constituinte e referendada pelas urnas, determina a separação de poderes, estabelece direitos de cidadania e configura os instrumentos judiciais cabíveis, ou seja, o presidente da Venezuela não manda prender cidadão algum, independentemente do cargo que ocupe.

Recorrer à desinformação para envolver a Venezuela em debates que dizem respeito apenas aos brasileiros é uma atitude indecorosa - ainda mais partindo de um ministro da mais alta corte da nação irmã - e não reflete a parceria histórica entre Brasil e Venezuela.

Maximilien Arveláiz, embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil.

Extraído do Blog do Miro

JARDIM GRAMACHO: A MAIOR LIXEIRA DA AMÉRICA LATINA É DESATIVADA NA SEXTA-FEIRA



Trinta e quatro anos depois, o Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro (Brasil), vai ser desactivado. Deixará de ser a maior lixeira da América Latina na próxima sexta-feira, mas o seu fim ficará marcado pela ausência de uma avaliação que aponte o tamanho real da sua contaminação ambiental, de acordo com a Folha.

Criado sobre um mangue das margens da baía de Guanabara – imagine-se! -, na confluência dos rios Sarapuí e Iguaçu, Duque de Caxias, o aterro terá recebido cerca de 70 milhões de toneladas de lixo sem qualquer protecção.

Na verdade, o Jardim Gramacho é apenas parte do problema. À sua volta existem pelo menos 42 lixeiras clandestinas, sendo que 21 estão activas. O objectivo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Rio de Janeiro é desactivá-las todas ainda em 2012.

O CTR (Centro de Tratamento de Resíduos), a 50 km do Rio, receberá o lixo que até agora tinha como destino o Jardim Gramacho. O local tem capacidade para 10 mil toneladas de lixo e um tempo de vida estimado de 17 anos.

A desactivação do Jardim Gramacho custou R$93,1 milhões (€37,2 milhões) à Prefeitura do Rio de Janeiro, em indenizações aos chamados catadores e ao consórcio que geria este equipamento.

Recorde tudo o que já escrevemos sobre o Jardim Gramacho. E assista a uma reportagem da Folha sobre a lixeira. São imagens impressionantes que, a partir de sexta-feira, ficarão a pertencer ao passado do Rio de Janeiro.


O CRIME PERFEITO NAS PÁGINAS DA VEJA - Zé Augusto

Se Gilmar Mendes dissesse, sem meias palavras, que Lula ofereceu proteção na CPI do Cachoeira em troca de adiar o julgamento do "mensalão", como escreveu a revista Veja, poderia ser processado por crime de calúnia.

A pena poderia ser de 6 meses a 2 anos na Papuda, de acordo com o código penal.

Por isso, não surpreendeu seu recuo, e o desmentido às acusações graves contidas na revista Veja, quando concedeu entrevista à Globonews, em Manaus.

Então quem deveria passar 2 anos na Papuda é o editor da revista Veja, inclusive com as declarações de Gilmar na Globonews desmentindo as acusação da Veja, servindo como prova para condenação.

Mas com a frouxidão de nosso sistema judiciário, que confunde liberdade de imprensa com imprensa inimputável, nada disso acontece.

O crime de calúnia no Brasil, se cometido na imprensa e por simpatizantes dos demotucanos, tornou-se um crime perfeito.

A matéria da Veja usa de um biombo para publicar calúnias, escapando de ser condenada.

Oficialmente, não foi Gilmar Mendes quem concedeu entrevista para Veja. A matéria da revista teria sido apurada reconstituindo diálogos com diversos "interlocutores" de Gilmar, e muitos falando em off, inclusive dois senadores (quem sabe um deles não seja o Demóstenes Torres).

A revista diz que Gilmar havia confirmado, mas confirmado o quê? A única frase na revista atribuída à ele é "Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula". Nada que comprometa judicialmente, e nada que autorizasse a revista a imputar crimes à Lula.

Eis o truque: Gilmar teria falado a interlocutores, que teria falado à Veja em "off", e a Veja diz ter confirmado com Gilmar (mas só a perplexidade).

Jornalismo decente teria feito a pergunta clara e objetiva: "Houve proposta de proteção na CPI em troca de adiamento do mensalão, como seus interlocutores dizem?" Se Gilmar não confirmasse, como não confirmou na Globonews, a revista não poderia publicar uma acusação destas, como publicou, construindo um texto ardiloso para enganar o leitor como se Gilmar tivesse confirmado tudo o que está escrito, e sem se comprometer juridicamente.

(Ressalte-se que Gilmar Mendes poderia ter desmentido no sábado, se quisesse evitar que o boato da calúnia se espalhasse, mas optou por deixar que se espalhasse mesmo, com as mais diversas versões, e só desmentiu na segunda-feira).

Logo, oficialmente, não foi Gilmar quem caluniou, não foi "A", nem "B", e nem a revista assume a autoria, atribuindo a uma fonte em "off" que diz ter ouvido de Gilmar Mendes. Qual fonte? A revista Veja esconde-se atrás do biombo do sigilo da fonte, para poder publicar a calúnia, sem revelar quem caluniou.

De certa forma, ao que tudo indica, a parceria Veja-Cachoeira também usava esse modus operandi. Oficialmente havia a relação fonte-revista. Extra-oficialmente havia interesses escusos de derrubar desafetos de cargos, inclusive eleitos, interferir em eleições através de escândalos pré-fabricados, e bombardear concorrentes empresariais.

O código penal é claro:

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.

A liberdade de imprensa, e de expressão, é plena e não cabe falar em retorno de censura. Cada um publica o que bem entende, mas convenhamos que, se uma revista publicar fotos de pedofilia recebidas em "off", seu editor irá preso, e a revista recolhida imediatamente. Ninguém falará que a liberdade de imprensa foi afrontada, nem que houve censura, pois o que se estaria fazendo é combater um crime.

Então por que o mesmo não vale com outros crimes publicados na imprensa, como de calúnia, formação de quadrilha para atividades clandestinas, etc?

JORNAL O GLOBO PROMOVE CAMPANHA CONTRA LULA NO TWITTER - Eduardo Guimarães

Ontem ocorreu um fato espantoso que explica bem por que a grande imprensa brasileira é chamada de PIG – sigla que significa “Partido da Imprensa Golpista”, uma sigla cunhada pelo deputado federal pelo PT de Pernambuco Fernando Ferro que se popularizou sobremaneira na internet.

A dita “mídia” é chamada de partido por boas razões. Uma delas é a de que tem militância exatamente como um partido. Centenas de pessoas defendem ferozmente as ações de Globo, Folha de São Paulo, Veja e Estado de São Paulo contra o Partido dos Trabalhadores e o governo federal.

Essas pessoas se escondem sob o anonimato e chegam ao ponto de fazer ameaças de assassinato ou de tortura contra quem se mostre simpatizante do PT e do governo, sobretudo se for blogueiro. Quando menos, promovem campanhas anônimas de difamação, atacam família etc.

Mas, ontem, a atuação da mídia como partido político chegou ao impensável. O jornal O Globo, em sua campanha incansável, interminável e eterna contra Lula, lançou mão de um recurso que só militâncias de partidos usam.

Tuitaço é o envio de múltiplas mensagens pela rede social Twitter para fazer “subir” frases sobre algum assunto ao que se convencionou chamar de Trending Topics, o ranking dos dez assuntos mais comentados no Brasil ou no mundo.

A revista Veja tem sido alvo de tuitaços de militantes petistas e de outros partidos de esquerda. E não é que O Globo, como prova de que é um partido político disfarçado de jornal, decidiu instigar tuiteiros militantes do PIG a promoverem uma campanha contra o ex-presidente Lula?

A imagem acima mostra que o perfil de O Globo no Twitter foi responsável pela “subida” da frase “Lula mente” ao topo dos Trending Topics.

O Globo tem mais de 500 mil “seguidores” no Twitter. Como as campanhas de militantes de oposição ao governo Lula – ou militantes da mídia – para levar frases aos Trending Topics vinham fracassando, o perfil do jornal naquela rede social resolveu dar uma ajudinha veiculando hashtag contra Lula para suas centenas de milhares de seguidores

Assim, O Globo conseguiu colocar no primeiro lugar dos Trending Topics aquela frase. Mas foi só por alguns minutos.

O que o Globo não sabia é que seguir o seu perfil no Twitter não significa apoiar o que faz. Este blogueiro mesmo “segue” o perfil @JornalOGlobo e nem por isso compartilha suas posições políticas. Muito pelo contrário.

Quando descobri que o Globo é que estava por trás da “subida” de #LulaMente ao topo dos Trending Topics, entrei no tuitaço de reação. Rapidamente, em questão de minutos, os simpatizantes de Lula e do PT desbancaram a hashtag #LulaMente, substituindo-a por #BrasilComLula, que permaneceu por mais de uma hora nos Trending Topics.

Então, leitor, se faltava algo para a grande imprensa brasileira comprovar que se converteu em partido político, não falta mais. O segundo (?) maior jornal do país lançou mão do recurso mais banal da política contemporânea para um grupo político atacar outro. O que será que o TSE acha disso?


Extraído do Blog da Cidadania