31 dezembro 2011

DEZ/2011 - ECONOMIA

Índia: um BRIC entre a China e os EUA - MK Venu 

A crise vem brava - Amir Khair 

O fascismo de mercado - Gilson Caroni Filho 

Stiglitz: "A Europa e o euro caminham para o suicídio" - Tomás Lukin e Jávier Lewkowicz 

30 dezembro 2011

ANP AUTUA CHEVRON PELA QUARTA VEZ DESDE VAZAMENTO DE ÓLEO NO CAMPO DE FRADE - Vitor Abdala

Rio de Janeiro - A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) autuou mais uma vez a empresa norte-americana Chevron, em decorrência do vazamento de petróleo no Campo de Frade, na Bacia de Campos, em novembro deste ano.


A ANP divulgará detalhes da autuação hoje (30) à tarde, por meio de uma nota à imprensa. A agência já havia autuado a Chevron três vezes, desde o vazamento: por descumprir o plano de abandono do poço, por omitir informações à ANP ao enviar um vídeo editado do vazamento e por não ter avaliado o impacto de um gás tóxico emitido em suas operações no Campo de Frade.

A assessoria de imprensa da Chevron informou que deve se pronunciar sobre a autuação na tarde de hoje.

Extraído do sítio da Agência Brasil

KATIA & MARIELLE LABÈQUE - Bolero de Ravel

PRESENÇA DE MONITORES INTERNACIONAIS NÃO ESPANTA VIOLÊNCIA DA SÍRIA


Mesmo com a presença de observadores internacionais da Liga Árabe para checar se a Síria está cumprindo um acordo de paz, a violência no país voltou a explodir nesta quarta-feira.

Manifestantes fogem de gás lançado pela polícia em Homs, uma das cidades mais afetadas pela violência
Segundo relato de ativistas, mais de dez pessoas foram mortas em cidades como Homs, Deraa e Idib.

Um vídeo divulgado na internet mostra uma multidão de manifestantes enfurecidos colocando o corpo de um menino sobre um carro que aparentemente pertencia aos observadores.

De acordo com o correspondente da BBC na região Jim Muir, que está no Líbano, o que se ouve no vídeo é alguém dizendo que o menino tinha cinco anos e se chamava Ahmad. “Esses são nossos mártires”, diz um homem aos membros da Liga Árabe. “E eles estão sendo mortos na frente de vocês, observadores”.

Mesmo com a resistência de muitos ativistas em relação à missão árabe, os enviados puderam, segundo Muir, entrar nas áreas mais afetadas de Homs, sem serem acompanhados por forças de segurança sírias, e podendo conversar com moradores.

No início do dia, o chefe da equipe de monitores, o general sudanês Mustafa Dabi, disse que até o momento não havia presenciado "nada assustador”. O correspondente da BBC afirma, no entanto, que o general Dabi está claramente evitando emitir julgamentos.

Prisioneiros

A Síria já havia anunciado nesta quarta-feira a libertação de 755 pessoas detidas durante os protestos contra o presidente Bashar Al-Assad.

De acordo com a TV estatal síria, os prisioneiros se envolveram "em incidentes recentes", mas não tiveram "as mãos manchadas com sangue sírio".

Segundo o plano de paz acordado entre o governo e a Liga Árabe, todos os manifestantes presos durante os protestos contra o governo, iniciados em março, devem ser soltos pela Síria.

Para o correspondente, a libertação dos prisioneiros é um gesto relativamente pequeno, apenas para dar a aparência de que está cooperando com a Liga Árabe.

Abusos

O regime é acusado de cometer abusos contra os detidos. O grupo de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch acusou autoridades sírias de esconder centenas de presos em instalações militares, onde os observadores da Liga Árabe não têm permissão de entrar.

A ONU e entidades de defesa dos direitos humanos estimam que 14 mil pessoas tenham sido detidas, e outras 5 mil tenham sido mortas, devido à repressão do regime sírio contra os manifestantes.

Os números de mortos e demais informações relativas aos confrontos na Síria são difíceis de verificar, já que jornalistas estrangeiros são proibidos de trabalhar no país.

O governo da Síria afirma que está combatendo grupos de terroristas armados, e que centenas de integrantes das forças de segurança também foram mortos nos protestos.


Extraído do sítio da BBC Brasil

Ler também: 

PROTECIONISMO TOMA CONTA DA AMÉRICA DO SUL, DIZ LE MONDE - Silvano Mendes

O vespertino Le Monde que chegou às bancas na tarde desta quinta-feira, 29 de dezembro, analisa as medidas tomadas pelos países do Mercosul nos últimos meses para tentar incentivar a produção local. O jornal explica como alguns membros do grupo impuseram novas tarifas alfandegárias para frear as importações.

Chefes de Estado na 39ª Cúpula do Mercosul, em San Juan, Argentina. Reuters

O vespertino Le Monde que chegou às bancas na tarde desta quinta-feira, 29 de dezembro, analisa as medidas tomadas pelos países do Mercosul nos últimos meses para tentar incentivar a produção local. O jornal explica como alguns membros do grupo impuseram novas tarifas alfandegárias para frear as importações.

O correspondente do Le Monde no Brasil explica que diante da crise financeira e a invasão de produtos mais baratos vindos de fora da zona, há vários meses os países da América do Sul multiplicam as tentativas para diminuir as importações. Além das medidas em vigor, os membros do Mercosul ainda pretendem aumentar os impostos de 140 produtos provenientes de outras regiões do mundo, relata o jornal.

O artigo explica que o movimento começou em janeiro de 2011 com a Argentina, quando a presidente Cristina Kirchner anunciou que 600 empresas estrangeiras seriam sujeitas à licenças de importação, um procedimento visando limitar a entrada no país dos produtos vindos de fora. A medida que teve repercussões quase imediatas, como a decisão da empresa canadense RIM, que fabrica os telefones Blackberry e que, diante das restrições, abriu uma fabrica no sul da Argentina, lembra Le Monde. O vespertino também ressalta que Brasília e Buenos Aires decidiram reforçar o controle das fronteiras e que o governo brasileiro criou novas restrições para a importação de produtos têxteis.

No entanto, ainda de acordo com o jornal francês, a medida protecionista mais espetacular, foi o aumento de 30% nos impostos sobre os carros importados vindos de fora do Mercosul anunciado pelo Brasil. Uma decisão visando diminuir as vendas dos veículos importados, que já registrava uma alta de 35% no primeiro semestre.

Diante das críticas da Organização Mundial do Comércio, que teme uma contaminação protecionista nos mercados emergentes, alguns países já se defendem. Le Monde ouviu a secretária brasileira de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, que explica que todas as decisões protecionistas do Mercosul “foram uma reação provisória diante da degradação do mercado para evitar a contaminação da crise. Nós agimos no âmbito autorizado pela OMC”, reage a representante do governo brasileiro.


Extraído do sítio da RFI

29 dezembro 2011

AMAURY RIBEIRO JR.: ASSIM CAMINHOU A PRIVATARIA - Rudolfo Lago

Em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, o autor de “A Privataria Tucana” revela os detalhes do seu livro. E mostra que, na história política recente do país, de um lado ou de outro, não há mocinhos nem bandidos. 

Parte do livro de Amaury Ribeiro Jr. detalha lances da disputa entre Serra e Dilma. E ninguém fica bem ao final da história
Na página 306 do livro “A Privataria Tucana”, o jornalista Amaury Ribeiro Jr. cita o Congresso em Foco. Ele se refere a uma reportagem do site publicada no dia 23 de outubro de 2010. À época, Amaury era o pivô de várias notícias publicadas na imprensa que envolviam o comitê de campanha da então candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. O jornalista tinha sido procurado para tentar desvendar quem seria responsável por vazamentos de informações que aconteciam na campanha e acabou esbarrando num violentíssimo caso de fogo amigo dentro do próprio PT. No curso da apuração do caso, descobriu-se que Amaury preparava um livro sobre o processo de privatização ocorrido no governo Fernando Henrique Cardoso. E Amaury foi acusado de ter comprado informações do sigilo fiscal da filha do ex-governador de São Paulo José Serra, Verônica Serra, e de outros tucanos de alta plumagem.

Matérias publicadas à época diziam que Amaury, na investigação policial que se seguira à denúncia, confessara ter de fato obtido ilegalmente tais informações sob sigilo. De posse da íntegra dos depoimentos de Amaury e dos demais envolvidos, o Congresso em Foco mostrou que Amaury era acusado de ter feito isso, mas que ele mesmo não confessara nada. “Além dos blogs, um único jornalista (…), do site Congresso em Foco, publicou a história verdadeira”, escreve Amaury.

A reportagem citada por Amaury em “A Privataria Tucana” inicia, referindo-se ao rolo em que o jornalista se viu metido, com a seguinte frase: “Não parece haver santos na história …”. Se a frase servia para resumir aquele episódio, ela serve também para resumir o conteúdo do livro escrito por Amaury Ribeiro Jr., publicado pela editora Geração Editorial. Um fenômeno de vendas (a primeira edição, de 15 mil livros, esgotou-se no primeiro dia, uma segunda edição, com 85 mil exemplares foi feita, e já foram vendidos 70 mil livros), o livro vem sendo duramente criticado pelo PSDB e por aqueles que estiveram diretamente ligados ao governo Fernando Henrique Cardoso e ao processo de privatização. José Serra referiu-se a ele com uma frase: “É um lixo”. Em nota, Fernando Henrique o classificou como “uma infâmia”. E o PSDB diz que o livro tem “características de farsa”  Ao mesmo tempo, o livro passou a semana sendo incensado por parlamentares ligados ao PT e ao governo.

Pois bem, uma leitura isenta das 343 páginas de “A Privataria Tucana” só pode chegar ao fim com a mesma conclusão que iniciava a matéria mencionada do Congresso em Foco: “Não há santos nessa história …”. Em primeiro lugar, impressiona o imenso conteúdo de documentos que demonstram movimentações financeiras em paraísos fiscais no mínimo estranhas de personagens devidamente identificados com o ninho tucano e o processo de privatizações, especialmente Ricardo Sérgio de Oliveira, que à época era o diretor da área internacional do Banco do Brasil. Mas também pessoas ligadas a ele ou ao processo, como João Bosco Madeiro, que comandava a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, e os empresários Carlos Jereissati e Daniel Dantas, que disputaram as empresas formadas no processo de privatização das telecomunicações. De Daniel Dantas, chega-se à sua irmã, Verônica Dantas Rodenburg. E dela, chega-se à filha de Serra, Verônica.

Uma documentação cujo conteúdo não pode mesmo ser desprezado por nenhuma pessoa honesta e que, sem dúvida, merece investigação. Que apure sua autenticidade e outros aspectos que a simples leitura do livro é incapaz de comprovar. Porém, a maior parte da documentação reproduzida no livro foi obtida pela CPI do Banestado, ocorrida no Congresso em 2003, presidida por um tucano, o senador à época Antero Paes de Barros (PSDB-MT), e relatada por um petista, o então deputado José Mentor (PT-SP). Quando agora se fala na criação de uma nova CPI para apurar o que está no livro de Amaury, a pergunta inevitável que fica é: por que não se investigou tudo àquela época?

A conclusão de que “não há santos nessa história” é corroborada por Amaury Ribeiro Jr. na entrevista a seguir, ao responder à pergunta acima. “Infelizmente, houve um grande acordão”, diz ele, sobre a CPI do Banestado. Com a multiplicação do aparecimento de personagens os mais diversos, ligados tanto à oposição quanto ao governo, e também a outros setores – o futebol, o narcotráfico, etc –, combinou-se esconder tudo. Eis o mérito do livro de Amaury: trazer à luz o que antes se combinou deixar escondido. Leia a entrevista:

A maioria dos documentos reunidos no livro foram recolhidos e produzidos pela CPI Banestado. Desde que seu livro saiu, parlamentares do PT e de outros partidos da base do governo têm se revezado na tribuna para elogiar o seu trabalho e pedir investigações sobre as privatizações. Se os documentos são de uma CPI, se o relator dessa CPI era do PT, por que essa investigação já não aconteceu naquela época? Por que não foram já então tomadas providências?

Essa documentação só chegou até as minhas mãos porque um juiz assim determinou. Eu estava sendo processado pelo Ricardo Sérgio de Oliveira, e os advogados da revista IstoÉ, onde eu trabalhava, alegando exceção da verdade, pediram judicialmente os documentos da CPI porque ali estavam as provas do que eu dizia nas reportagens. Como o juiz assim determinou, o então presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros [PSDB-MT], entregou a documentação. O juiz avisou-os de que, caso não fossem mandados os documentos, ele determinaria uma busca e apreensão na CPI.

OK, mas os documentos estavam lá. Um deputado do PT os conhecia. Por que precisou você tomar conhecimento dessa documentação, por que precisou da sua intermediação para essa documentação vir à tona? Quem, desde aquela época, conhecia a documentação não poderia desde então ter feito a investigação agora pedida?

Infelizmente, houve um grande acordão. PT e PSDB fizeram um acordão na época para parar a investigação. Aquilo começou a incomodar todo mundo pelo volume de informações ali contidas. Porque os casos de lavagem de dinheiro que começaram a aparecer ali não envolvem só o que está relacionado ao processo de privatização. Como está descrito em algumas partes do livro, apareceu gente ligada aos mais diversos grupos e atividades. Começaram a aparecer coisas relacionadas ao Henrique Meirelles, que à época era o presidente do Banco Central no governo Lula. Então, guardou-se tudo. E eu só consegui por determinação da Justiça. E, durante muito tempo, eu mesmo não podia usar, porque a documentação estava vinculada a um processo em curso. Somente em 2008, quando eu ganhei o processo, é que eu pude pedir o desarquivamento da documentação, que estava guardada num arquivo no Museu da Justiça, que fica no Ipiranga, em São Paulo. Até então, eu mesmo não conhecia esse conteúdo.

Isso demonstra, então, que não tem santo nessa história …

Não tem santo nessa história. Agora mesmo, há uma movimentação para fazer uma nova CPI, que está sendo pedida pelos deputados Protógenes Queiroz [PCdoB-SP] e Brizola Neto [PDT-RJ]. E voltam a tentar uma negociação, a dizer que não tem foco. Como não tem foco? Os documentos estão aí. Eu só peguei uma parte. Precisa haver, sim, uma investigação a chegar a todo o resto. Até para dizer de fato se eu estou ou não falando a verdade.

Há, sem dúvida, uma farta documentação reproduzida no livro, no que se refere à movimentação de dinheiro em paraísos fiscais, especialmente nas Ilhas Virgens Britânicas, de personagens ligados ao PSDB e ligados ao processo de privatização. Ricardo Sérgio, Verônica Serra, etc. Mas tem sido feita uma crítica de que essa documentação não é capaz de fazer uma conexão direta das movimentações com o processo de privatização …

Como não há conexão? O Carlos Jereissati faz parte de um consórcio que ganha uma fatia da privatização e faz, depois, um depósito numa conta do Ricardo Sérgio. O [Gregório Marín] Preciado, primo do Serra, leva a privatização da Coelba [Companhia de Eletricidade da Bahia – segundo o livro, Preciado representava no processo da privatização a empresa espanhola Iberdrola] e paga também. Isso não é conexão? Nós temos que lembrar que Ricardo Sérgio era um cara totalmente ligado àquele processo. O cara que tinha o domínio da Previ e do Banco do Brasil, que ajudou a formar os consórcios. Parece haver uma grande má vontade de quem faz essas considerações. O Palocci enriqueceu quando era o coordenador da campanha da Dilma. Alguém se levantou para dizer que não havia conexão direta entre o trabalho do Palocci na campanha e os contratos da empresa dele? O que apareceu ali foram indícios, mas que foram suficientes para derrubá-lo como ministro da Casa Civil. Agora, aparecem mais de mil páginas de documentos e não há conexão? O consórcio do cara ganha o processo e ele paga para quem faz a privatização. O que é preciso discutir? O que se queria: uma guia de depósito que dissesse “pagamento de propina feita pela vitória na privatização”?

Quantos documentos você reuniu? Quantas páginas de documentos você calcula possuir referentes ao processo de privatização e à lavagem de dinheiro?

Mais de mil. E há mais coisas, de outros assuntos, que não foram usados no livro, porque ainda precisam de mais apuração, de mais investigação. E eu diria que algumas até mais violentas.

A descrição feita no livro sobre o processo de privatização mostra que o governo Fernando Henrique, à época, dividiu-se entre aqueles que trabalhavam por vitórias do grupo ligado a Carlos Jereissati e os que trabalhavam pelo grupo liderado por Daniel Dantas. Mas, depois, nas movimentações feitas nos paraísos fiscais, esses grupos muitas vezes se encontram nas mesmas lavanderias de dinheiro. Como se dá isso?

Porque há um personagem principal nisso tudo, que é o Ricardo Sérgio. Tanto os grupos que perderam quanto os que ganharam no processo de privatização da Telemar não tinham inicialmente o dinheiro necessário para concorrer. Eles precisavam do apoio da Previ. E quem controlava a Previ? O Ricardo Sérgio, através do João Bosco Madeiro da Costa. E ambos usavam o mesmo caminho de internação do dinheiro vindo do exterior no Brasil. No final, todo mundo se acertou, e eles receberam dinheiro de todos. A documentação deixa isso bem claro.

Então, Ricardo Sérgio operava para os dois grupos?

Essa não é uma tese nem minha. É uma tese que está em um processo de improbidade movido pelo Ministério Público. O que os procuradores dizem é que os grupos que se habilitaram para concorrer na privatização das empresas de telecomunicação não tinham o dinheiro necessário para concorrer. Os grupos entraram, então, com cartas de fiança dadas pelo Banco do Brasil. Por quem? Por Ricardo Sérgio. E dependiam, depois, para compor os grupos que formavam, da Previ, que era um fundo milionário, que ficou com a maior parte das empresas que se formaram ao final do processo de privatização. E o Ricardo Sérgio controlava a Previ, através do João Bosco Madeiro da Costa.

E José Serra e Verônica Serra, como você resumiria o papel deles nesse processo todo?

Ficava mapeada uma ligação direta, bem logo após a privatização, com o grupo Opportunity, que ganhou com um dos consórcios uma fatia da privatização. Verônica Serra monta uma sociedade com a irmã de Daniel Dantas, Verônica Dantas Rodenburg. Verônica Serra diz que o negócio acabou, foi fechado,não existe mais. Os documentos contidos no livro mostram que o negócio não acabou, não foi fechado. Está lá a movimentação, a partir da Citco [Building, off-shore], nas Ilhas Virgens Britânicas. Uma manobra para internação de dinheiro, do mesmo tipo da que é usada, a partir dessa mesma off-shore, a Citco, por outros personagens, de Ricardo Teixeira a Fernandinho Beira-Mar.

Esse é outro aspecto que chama a atenção no livro, além do que se relaciona diretamente ao processo de privatização. Os mais variados personagens da política, do governo, da oposição, do narcotráfico, do futebol, usam as mesmas lavanderias …

O mais importante que há neste livro, na minha opinião, é explicar os processos de lavagem de dinheiro. As falhas da legislação, os mecanismos de legalização de dinheiro obtido no crime, na corrupção, de maneira ilegal.

Voltemos, então, à primeira questão posta na entrevista. Talvez seja por isso – porque grupos diversos estejam envolvidos nos mesmos desvios, nos mesmos caminhos, nos mesmos processos – que as investigações acabem não seguindo, acabem empacando em acordões?

Só pode ser isso, né? Veja agora: se o Protógenes e o Brizola Neto disseram que conseguiram as assinaturas para instalar uma CPI da Privatização, por que o PT não assina? É por que quer negociar alguma coisa? Vai ficar muito feio se o PT não assinar esse pedido de CPI e se, com a maioria que o governo tem, não instalar essa investigação. Que leitura vai ser feita disso? Hoje, há um mundo novo fora dos meios tradicionais de comunicação, na internet, que cobra, que vigia. Com uma força surpreendente. Veja que nenhum jornal, nenhuma revista, falava do meu livro e ele já estava com a primeira edição completamente esgotada e se esgotando a segunda. Eu percebo que o livro virou uma bandeira para alguns ligados ao governo e ao PT. Como é que fica isso? Vai ficar muito feio.

Antes do livro sair, você acabou se tornando personagem do noticiário, na confusão havida no comitê de campanha da então candidata à Presidência, Dilma Rousseff. No curso do que surgiu na época, se disse que alguns dos documentos que hoje estão no livro foram obtidos de forma ilícita. Como você responde a essas acusações?

Eu respondo com documentos. As pessoas que me acusam de ter quebrado o sigilo já estavam com o sigilo quebrado. Dizem que eu fui indiciado, mas ninguém diz que isso não virou nem denúncia contra mim. Me acusam como se eu fosse condenado por quebra de sigilo, e não houve nem denúncia. Eu estou me defendendo. Isso ainda vai dar outro livro. Porque eu vou mostrar que o que saiu contra mim nos jornais foi outro caso da Escola Base. Agora, a Verônica Serra é ré num processo por quebra de sigilo bancário.

Por conta desse episódio no comitê de Dilma, o final do livro não se refere nem a privatização nem a lavagem de dinheiro. Narra uma violenta troca de fogo amigo dentro do próprio PT na campanha, contrapondo, de um lado, um grupo ligado ao hoje presidente do PT, Rui Falcão, e de outro, um grupo ligado ao atual ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Te impressionou a virulência dessa briga? Porque ela poderia ter mesmo prejudicado a campanha de Dilma, não?

Me impressionou muito. Me deu até medo. Eu fui para lá achando que iria investigar uma infiltração de alguém ligado ao candidato do grupo oposto, José Serra, na campanha. E, no final, era o PT contra o PT. Fogo amigo pesado. O que ficou claro para mim é o que os interesses em jogo – sejam por dinheiro, sejam por poder – estão muito além do esforço para eleger o candidato. Os caras começam a se matar antes mesmo de ganhar a eleição, de nomear os ministros, nem ganharam e já estão brigando pelos cargos. Isso parece inacreditável. Mas aconteceu.


Extraído do sítio Congresso em Foco

A IMPRENSA DESCOBRE O LIVRO - Luciano Martins Costa

Demorou, mas finalmente a chamada grande imprensa – ou pelo menos os jornais paulistas O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo – admitem em seu noticiário a existência do livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

Nas edições de quarta-feira (28/12), os dois diários reproduzem uma nota distribuída pela filha do ex-governador José Serra, Verônica, na qual ela se defende das acusações contidas no livro. Coincidentemente, a revista Veja, que até o começo da semana ignorava a existência da obra, acaba de descobrir que o livro de Ribeiro Jr. é um best-seller e o inclui em sua lista dos mais vendidos. Mas faz uma média esquisita e, em vez de situá-lo em segundo lugar, conforme indicado pelas livrarias Cultura, Saraiva e Publifolha, decide que é o sexto mais vendido.

Já que a filha do ex-governador se manifestou, pode-se esperar que, antes de acabar o ano, os jornais ainda venham a tomar a iniciativa de publicar uma resenha do livro ou entrevistar o autor.

Sem notícia

Verônica Serra é apenas uma das pessoas citadas por Amaury Ribeiro Jr., entre parentes e amigos de José Serra, como acusadas de manter negócios em paraísos fiscais, para movimentar dinheiro das privatizações. Ela nega ter sido sócia de outra Verônica, irmã do banqueiro Daniel Dantas.

Ela afirma que apenas participou, com Verônica Dantas, do conselho da empresa Dedidir, que fazia checagem de crédito, verificação de identidade e processamento de assinaturas eletrônicas. Cada uma delas representava um investidor diferente. Argumentando que “participar de um mesmo Conselho de Administração, representando terceiros, não caracteriza sociedade”, Verônica Serra afirma que nem chegou a conhecer a irmã e sócia de Dantas.

A filha do ex-governador diz também que é mentira a afirmação, contida no livro, de que foi indiciada pela Polícia Federal por quebra de sigilo financeiro. No texto que complementa sua nota, a Folha informa que, em 2001, a Decidir, de cujo conselho Verônica Serra participava, foi alvo de inquérito da Polícia Federal por suposta quebra de sigilo de dados de milhares de correntistas no Brasil. O processo contra a empresa corre na Justiça desde 2003 e não há notícias na imprensa sobre essa acusação.

Se ela foi ou não indiciada, é fácil verificar: basta acessar o site da Justiça Federal em São Paulo e digitar o número 0000370-36.2003.4.03.6181. O nome de Verônica Allende Serra está lá.

Agora é notícia

A declaração da filha do ex-governador e ex-ministro – que foi publicada originalmente no blog de Eduardo Graeff, ex-secretário geral da Presidência durante o governo Fernando Henrique Cardoso (ver aqui) – é a primeira informação relacionada ao livro de Ribeiro Jr. publicada pelos jornais de circulação nacional. Antes disso, apenas referências em alguns artigos e frases esparsas.

O silêncio em torno do livro – que se tornou um fenômeno de vendas assim que foi lançado, há duas semanas – era motivo de constrangimento para a imprensa, diante da grande repercussão de suas denúncias através da TV Record e das redes sociais na internet.

Afora um ou outro artigo, quase todos condenando liminarmente a obra, mesmo sem ter havido tempo para a leitura de suas mais de 300 páginas, os jornais se negavam a reconhecer sua mera existência.

Se os jornais entendiam que a reportagem de Amaury Ribeiro Jr. não tem fundamento, deveriam ter entrevistado Verônica Serra e dado espaço para sua defesa. Com a omissão, apenas estimularam a torrente de comentários na internet, que agravou ainda mais o efeito das denúncias.

O fato de ela ter preferido o blog de Eduardo Graeff dá um caráter partidário à sua nota e causa certo estranhamento – por que publicar no blog de um amigo e correligionário e não na imprensa tradicional?

Na introdução ao texto de Verônica Serra, Graeff se refere ao livro como “o mais recente dossiê fabricado contra o PSDB”, indicando claramente a intenção dos gestores de crise encarregados de lidar com o caso de manter a questão no ambiente político-partidário.

Personalizando a questão na simpática figura de Verônica Allende Serra e estendendo a polêmica ao âmbito partidário, quem sabe a imprensa esqueça de investigar as acusações contidas no livro a outros personagens ligados ao ex-governador.

Nem o dono do blog nem Verônica se referem ao fato – admitido por Ribeiro Jr. – de que a investigação contra parentes e amigos de José Serra foi iniciada como reação do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, também do PSDB, no contexto da disputa entre os dois políticos pela candidatura a presidente da República.

Em sua declaração, Verônica Serra rebate algumas das acusações contidas em A privataria tucana e promete recorrer à Justiça. Segundo a Folha de S. Paulo, ela vai processar não apenas o autor do livro, mas também os veículos de comunicação que têm reproduzido partes de seu conteúdo.

Se isso for verdade, finalmente teremos o assunto nas páginas dos jornais.

Extraído do sítio do Observatório da Imprensa

O JOVEM KIM JONG-UN ASSUME O COMANDO DA COREIA DO NORTE

Em uma cerimônia grandiosa na capital Pyongyang nesta quinta-feira, 29 de dezembro, Kim Jong-un assumiu o comando da Coreia do Norte no lugar de seu pai, Kim Jong-il. Com menos de 30 anos de idade, ele se torna o terceiro governante da única dinastia comunista da história. A posse contou com a participação de 100 mil militares.

O novo líder norte-coreano Kim Jong-un durante a cerimônia de posse em Pyongyang. REUTERS/KRT
A Coreia do Norte proclamou Kim Jong-un, filho do dirigente Kim Jong-il, morto em 17 de dezembro, seu novo líder supremo. No último dia de luto no país, o novo dirigente discursou na praça central da capital Pyongyang coberta de neve, diante de milhares de militares e de civis. A cerimônia, retransmitida ao vivo pela TV estatal, foi encerrada por tiros de canhões e 3 minutos de silêncio.

O filho de Kim Jong-il se torna o terceiro governante da única dinastia comunista da história. A partir de agora, ele será o novo chefe de Estado, mas também do exército e do partido único.

Dos 24 milhões de habitantes da Coreia do Norte, 1,2 milhões são militares. As forças armadas têm um papel central nesse país, que possui a bomba atômica. A questão agora é saber como Kim Jong-un, de ainda não completou 30 anos, vai dar continuidade ao legado de seu avô, que criou a Coreia do Norte comunista em 1948, e de seu pai, que dirigiu o país com mão de ferro por 17 anos.

Apesar de sua pouca idade e da ausência de experiência política, Kim Jong-un já está sendo chamado de “grande sucessor” e “grande camarada” pelas autoridades de Pyongyang. O jornal do partido comunista, Rodong Sinmun, publicou o nome do herdeiro em letras garrafais em sua edição desta terça-feira, um privilégio reservado até agora apenas a seu pai e seu avô.


Extraído do sítio da RFI

A PRIVATIZAÇÃO DO DINHEIRO

A dívida pública mundial cresceu duas vezes e meia nos últimos 10 anos. Trouxe desenvolvimento humano? Não. Mas fez da banca privada a dona do dinheiro. Veja como... Compreenda a dívida pública européia em poucos minutos:


LEGENDAGEM EM PORTUGUÊS (carregar no botão CC na barra do vídeo)

Uma explicação concisa dos mecanismos de criação e crescimento da dívida pública europeia.

BANCOS EUROPEUS EMTRE A ABUNDÂNCIA E A DESCONFIANÇA

Dias depois do Banco Central Europeu ter feito o maior empréstimo a mais de 500 bancos para aumentar a liquidez, esta semana há outro recorde em Frankfurt: é que em vez de emprestarem o dinheiro entre si, os bancos optaram por depositá-lo no próprio BCE, que nunca teve um balanço tão rico como neste fim de ano.

Os banqueiros preferem guardar o dinheiro no BCE do que pôr a economia a mexer. Foto Ninette Luz/Flickr
Os depósitos 'overnight' (de um dia para o outro) têm uma remuneração muito baixa, de 0,25%. Mas os bancos europeus, que na semana passada recolheram 489 mil milhões à taxa de 1% a três anos, preferem deixá-lo em segurança no Banco Central Europeu do que fazer circular o dinheiro entre eles, financiar a economia ou comprar títulos da dívida dos Estados.

Esta quarta-feira, foi revelado o montante destes depósitos "overnight", que atingiu 452 mil milhões de euros, pulverizando o recorde da véspera que era de 412 mil milhões. Por seu lado, o Banco Central Europeu emitiu um comunicado a anunciar que nunca como agora teve um balanço tão recheado: 2,73 biliões de euros, subindo 10% numa semana graças ao mega-empréstimo à banca da zona euro.

Para esta quinta-feira está marcado um novo teste ao efeito do empréstimo do BCE à banca, quando forem leiloados os títulos da dívida italiana de longo prazo. Na véspera ocorreu a primeira fase do leilão, para 9 mil milhões de dívida a seis meses. A Itália conseguiu pagar 3,25%, ou seja, metade do juro do que no anterior leilão de 25 de novembro.

BCE engorda os bancos: será que estes “ajudam” os Estados?

Para os 523 bancos que acorreram esta quarta-feira à operação especial de financiamento do Banco Central Europeu a uma taxa de juro de 1%, o Natal chegou mais cedo. O resultado foi um empréstimo recordista de 489 mil milhões de euros.

Foto saikofish/Flickr
Os bancos europeus financiaram-se quarta-feira com um total de 489 mil milhões de euros postos à disposição pelo Banco Central Europeu ao lançar um empréstimo inédito a três anos com montante ilimitado e a juros de um por cento. De acordo com a imprensa económica europeia, este foi o caminho defendido pelo directório franco-alemão na sequência do Conselho Europeu de 9 de Dezembro: ajudar os bancos tentando que estes financiem os Estados mais endividados em melhores condições do que as impostas pelos mercados financeiros.

A grande dúvida agora, depois do “sucesso” da operação, como foi anunciado genericamente, é saber se os bancos que acorreram ao leilão promovido pelo BCE, a quase totalidade das entidades da Zona Euro, seguirão o caminho que Merkel e Sarkozy idealizaram para atacar a crise das dívidas: permitir aos Estados aceder a dinheiro mais barato e abrir aos agentes económicos a possibilidade de conseguirem empréstimos para saírem da estagnação e recessão para onde foram empurrados como uma das mais evidentes consequências da política de austeridade.

Os analistas citados pela imprensa consideravam a operação um êxito se ultrapassasse os 200 mil milhões de euros, pelo que a verba atingida terá superado as expectativas.

Fontes da presidência francesa citadas pelo Le Monde consideram que os Estados fica agora em condições de recorrer aos bancos para colocar as suas obrigações soberanas que têm sido alvo de especulação constante pelos mercados financeiros. Em teoria, os Estados podem contrair empréstimos a um por cento para os colocar em títulos de dívida proporcionando rendimentos muito atractivos, o que desencorajaria a especulação.

O BCE não pode, pelo seu estatuto, financiar os Estados da Zona Euro. Esta operação é uma tentativa para o fazer através de empréstimos que atraiam a banca e a mobilizem nesta direcção.

As dúvidas do êxito da estratégia residem, segundo os analistas citados pela imprensa, no comportamento que os bancos vão assumir através dos seus critérios de prioridades. Quanto aos mercados financeira, para já, não reagiram com entusiasmo especial à medida, que em teoria pode atacar o monopólio da actividade especulativa sobre as dívidas soberanas.

Dizem os analistas que os bancos tendem, em primeiro lugar, a reforçar os capitais próprios devido à medidas recentes que os obrigam a fazê-lo. Deverão também reembolsar cerca de 230 mil milhões de euros de obrigações que se vencem até ao final do primeiro trimestre do próximo ano.

Extraído do Sítio Esquerda.net

28 dezembro 2011

ÁSIA ORIENTAL ACOMPANHA ATENTA A SUCESSÃO NA CORÉIA DO NORTE - Rodion Ebbighausen

Enquanto os norte-coreanos celebram o funeral do ditador Kim Jong Il, os países vizinhos acompanham tensos a transição de poder no país comunista. O risco da instabilidade existe, lembram especialistas.

Cortejo fúnebre do ditador Kim Jon Il
em Pyongyang
Enquanto os norte-coreanos celebram o funeral do ditador Kim Jong Il, os países vizinhos acompanham tensos a transição de poder no país comunista. O risco da instabilidade existe, lembram especialistas.

A morte do ditador norte-coreano Kim Jong Il foi mantida em sigilo durante dois dias. Nem mesmo o serviço secreto sul-coreano suspeitou de alguma coisa. Isso mostra o quão pequeno é o volume de informações que vaza das barreiras hermeticamente fechadas da Coreia do Norte.

"Tudo é possível e as coisas são difíceis de serem previstas", diz o especialista Hanns Günther Hilpert, do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP, na sigla em alemão), sobre o futuro do governo norte-coreano.

Kim Jong Un é o "grande sucessor"

Certo é que Kim Jong Un é o nome indicado para suceder Kim Jong Il. Logo após a morte do pai, ele foi apontado pela mídia como seu "grande sucessor". No sábado passado (24/12), foi também nomeado "comandante supremo" das Forças Armadas.

Kim Jong Un encontra apoio na família, sobretudo de sua tia Kim Kyong Hui, que é membro do Politburo, e de seu tio Jang Song Thaek, que dirige o departamento administrativo do partido do governo, supervisiona o serviço secreto e é vice-presidente da Comissão Nacional da Defesa.

O filho e sucessor Kim Jong Un acompanha o
cortejo fúnebre
A China, por sua vez, na condição de vizinho mais poderoso do país, parece estar de acordo com a sucessão, afirmam os especialistas. O pesquisador Patrick Köllner, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), sediado em Hamburgo, lembra: "A China já manifestou sua aprovação frente à tomada do poder por Kim Jong Un".

Mas isso não significa que a questão do poder na Coreia do Norte esteja finalmente esclarecida. "A sucessão de Kim Jong Il por Kim Jong Un já foi conduzida, mas não pode ser considerada de forma alguma como algo implementado", completa Köllner.

Principalmente a juventude é um empecilho a que Kim Jong Un consolide a sua ascensão ao poder, já que tanto a idade quanto a experiência são quesitos importantes para um líder na sociedade norte-coreana.

Divergências nos círculos internos de poder

Lutas pelo poder nos círculos internos do governo tornam a situação ainda mais difícil. Há duas facções: a primeira defende reformas econômicas seguindo o modelo chinês; a outra se opõe amplamente a essas reformas.

Os defensores das reformas econômicas encontram-se, contudo, já há alguns anos em posição de minoria, constata Köllner. Uma oposição que possa ser levada a sério não existe no país. "Quem, na Coreia do Norte, se opõe à família Kim, não tem chances de sobrevivência", diz Hilpert, do SWP.

Militares norte-coreanos durante o cortejo
 fúnebre
Em meio a todas as divergências, o regime norte-coreano aposta na continuidade política, visando, entre outros, a manutenção do programa nuclear, já que as armas atômicas são consideradas meios eficazes para assustar os países ocidentais. "No fim, as lideranças permanecem num mesmo barco. Mesmo que nem todos remem na mesma direção, é comum a todos o interesse pela perpetuação do regime", relata Köllner.

Irritação entre vizinhos

Os países vizinhos, principalmente a Coreia do Sul, observam a situação política na Coreia do Norte com tensão e grande preocupação. A relação entre as duas Coreias ficará nebulosa por algum tempo, avaliam os especialistas, até porque o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung Bak, mantém uma linha dura frente à Coreia do Norte.

Segundo Köllner, não há nenhum canal aberto de diálogo entre os dois países. "As relações estão totalmente suspensas. Só espero novos impulsos neste sentido depois que o mandato de Lee Myung Bak chegar ao fim, em 2013", diz Köllner.

Patrulhamento de fronteiras entre as duas
Coreias: tensão há décadas
Nem mesmo a visita de duas delegações sul-coreanas a Pyongyang, para o funeral de Kim Jong Il, que começou nesta quarta-feira (28/12), contribui para mudar algo nesta situação.

Segundo declarações oficiais, as visitas das duas delegações ao país são de natureza privada, tendo sido lideradas pela viúva do ex-presidente sul-coreano Kim Dae Jung, defensor de uma política de aproximação com a Coreia do Norte, e também por Hyun Jeong Eun, presidente do grupo Hyundai, que mantém relações comerciais com o país comunista. Outras visitas de condolência além dessas duas não foram permitidas pelo governo norte-coreano.

China: "proteção da Coreia do Norte"

O especialista Hilpert diz ver na China a grande protetora da Coreia do Norte. Pequim, segundo ele, apoia o regime norte-coreano por temer uma avalanche de refugiados, que poderiam levar a uma instabilidade nas províncias ao norte da China, nas quais também vivem minorias coreanas.

"A consequência a médio prazo de uma derrocada da Coreia do Norte poderia ser a reunificação do país, sob a égide capitalista pró-americana. Neste caso, tropas norte-americanas poderiam ficar estacionadas na fronteira com a China – a pior de todas as hipóteses, sob a perspectiva chinesa", completa Hilpert.

A consolidação do poder na Coreia do Norte sobrepõe-se a todos os outros temas, fazendo com que questões de política externa sejam dominadas pela definição de posições na política interna. "Questões de sucessão em regimes autoritários são basicamente períodos com risco de grande instabilidade. De forma que as energias, no momento, voltam-se muito para dentro", analisa Hilpert.

Ele compara o atual clima político no Sudeste Asiático à calmaria que antecede a tempestade, mesmo que ninguém possa realmente dizer se e quando a tempestade vai, de fato, começar.

Extraído do sítio da Deutsche Welle

MESMO COMO 6ª ECONOMIA, BRASIL CONTINUA POBRE, DIZ ECONOMISTA DA UNCTAD - Mário Camera

O Brasil continuará sendo um país pobre, mesmo com a previsão de que a sua economia vai ultrapassar a britânica como 6ª maior do mundo, segundo o economista Joerg Mayer, da Divisão de Globalização e Desenvolvimento Estratégico da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD, sigla em inglês).

"O país ganha um pouco de prestígio, mas, como a população brasileira é muito numerosa, a renda média é muito mais baixa", disse o economista à BBC Brasil. "Mesmo como sexta economia mundial, o Brasil continua pobre", afirmou.

Agnès Bénassy-Quéré, diretora do Centro de Pesquisas Prospectivas e de Informações Internacionais, em Paris, também relativiza as projeções divulgadas nesta semana. "É preciso muita precaução", disse a economista à BBC Brasil.

"O Brasil apresenta um crescimento fulgurante, pois os cálculos são feitos em dólar, que tem se desvalorizado nos últimos anos. Não é possível dizer que esses números são definitivos", afirmou a economista.

Para Bénassy-Quéré, o excesso de valor do real é o fator principal para a economia brasileira ultrapassar a da Grã-Bretanha. "A moeda brasileira valorizou-se muito nos últimos anos, enquanto a libra esterlina sofreu uma forte desvalorização. Isso faz uma diferença enorme."

Assim como o representante da UNCTAD, a economista francesa acredita que o cálculo mais realista para mostrar a situação da economia brasileira atualmente deveria basear-se no PIB per capita.

"O PIB per capita do Brasil representa apenas 25% do americano", diz Bénassy-Quéré. "Nas projeções que fizemos, em 2050 o PIB per capita brasileiro alcançará apenas 45% do nível registrado nos EUA."

Maré alta

Apesar da dificuldades, ambos acreditam que o crescimento da economia ajudará a melhorar os índices sociais brasileiros a longo prazo. "Na maré alta, todos os barcos sobem", afirma Bénassy-Quéré. Para ela, o momento é de investir em setores estratégicos para o desenvolvimento da sociedade brasileira.

"É preciso adotar medidas políticas que mudem dois pontos essenciais: a educação e a poupança", diz a economista.

"Se pegarmos o nível de educação no Brasil, vemos que ele é muito baixo, com menos de 10% da população ativa com um diploma universitário. Isso situa o país muito abaixo de China, Índia e Rússia, por exemplo."

Sobre o risco de inflação devido ao forte crescimento da economia - destacado constantemente pelo Banco Central na hora de aumentar as taxas de juros -, Mayer afirma que basta uma política salarial atrelada à produtividade.

"Se os salários aumentam junto com a produção e não por causa da demanda, é possível controlar a inflação sem mexer nas taxas de juros", explica o economista.

As projeções de que o Brasil deve ultrapassar a Grã-Bretanha como 6ª economia mundial foram feitas pelo Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios (CEBR, na sigla em inglês), com sede na Grã-Bretanha.

A previsão, que já havia sido feita por outras entidades, só poderão ser confirmadas nos primeiros meses de 2012, quando ambos os países divulgarão o resultado do crescimento de suas economias.

Extraído do sítio da BBC Brasil